15 mulheres que mudaram o nosso jeito de ver o sexo e a feminilidade
“Mulheres comportadas raramente fazem história”. Atribuída equivocadamente à diva Marylin Monroe, a frase de Laurel Thatcher Ulrich, historiadora americana vencedora do Pulitzer, serve bem para resumir a trajetória de brasileiras que foram fundamentais no avanço dos direitos femininos.
Da Marquesa de Santos no século 18 a contemporânea Valeska Popozuda, esses ícones femininos abriram o caminho para as que vieram depois delas. Mas para isso, precisaram enfrentar preconceitos e desafiar padrões que definem o que é uma ‘mulher comportada’.
Neste Mês da Mulher, o Delas aponta, com ajuda de especialistas em comportamento feminino e em sexualidade, quem são as mulheres que mudaram o nosso jeito de ver o sexo e a feminilidade.
1 – Marquesa de Santos (1797 – 1867)
Para a história, Domitila de Castro Canto e Melo ficou conhecida como a amante de Dom Pedro I. Mas a Marquesa de Santos foi mais do que isso. Depois de ter sido ser agredida pelo marido, ela pediu a separação quando poucas tinham coragem de fazer isso. Logo depois, Domitila conheceu o imperador e decidiu se mudar para o Rio de Janeiro para ficar perto dele.
“Sem dúvida ela teve uma posição bem diferente das mulheres da época”, comenta a psiquiatra Carmita Abdo, coordenadora geral do Projeto de Sexualidade do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo (ProSex). Carmita ainda aponta a coragem de Domitila, que não escondia sua posição de amante do homem mais importante do Brasil na época.
2 – Dona Beja (1800 – 1873)
Ana Jacinta de São José, conhecida como Dona Beja, foi recebida em Araxá (MG) com muito preconceito. Para se vingar dos olhares tortos das mulheres da cidade, ela construiu um bordel onde recebia os maridos de suas detratoras, em troca de dinheiro e muitas joias.
Mas em sua cama só deitavam os homens que ela queria. “O caso de Dona Beja é bastante emblemático, caracteriza um tipo de comportamento que vai mudando”, avalia Carmita, a respeito das prostitutas e das casas de prostituição no País.
3 – Chiquinha Gonzaga (1847 – 1935)
O fato de ser uma compositora e maestrina em pleno século 18 já faz de Chiquinha Gonzaga uma revolucionária. Mas ela também merece destaque por sua ousadia na vida pessoal. Com 52 anos e separada, Chiquinha sacudiu o Rio ao viver um grande amor com um jovem de 16 anos. “Isso é uma revolução até hoje”, afirma Mirian Goldenberg, antropóloga e autora do livro “Homem não chora. Mulher não ri” (Nova Fronteira).
4 – Nísia Floresta (1810 – 1885)
Nísia é considerada uma das precursoras do feminismo no Brasil por ter escrito o livro “Direitos das Mulheres e Injustiça dos Homens”, aos 22 anos. Além disso, chocou a sociedade do século 19 ao deixar o marido para assumir um romance proibido.
5 – Pagu (1910 – 1962)
“A Pagu teve o papel de desmistificar o comportamento de gênero. Ela mostrou que pra ser mulher, não precisa ter um certo cabelo, roupa ou comportamento”, avalia Carmita sobre o ícone feminino, cujo nome de batismo era Patrícia Galvão. Militante política histórica, a artista fumava na rua, falava palavrões e usava roupas transparentes. Sem falar dos vários namorados que tinha sem se preocupar com o que iam dizer.
6 – Leila Diniz (1945 – 1972)
A atriz merece um capítulo a parte na história da mulher no Brasil. “Ela representa uma geração de mulheres que revolucionou o comportamento feminino nos anos 60”, ressalta Mirian. Um ato memorável de Leila Diniz foi ter ido à praia de biquíni grávida, mostrando a todos que a maternidade não exclui a sensualidade.
“Muitos dos hábitos que ela trouxe pela primeira vez foram adotados de forma muito mais comum”, analisa Carmita. Leila inclusive não tinha vergonha de falar sobre sexo. Uma declaração ao jornal O Pasquim ficou famosa: “Você pode muito bem amar uma pessoa e ir para cama com outra. Já aconteceu comigo.”
7 – Hilda Hilst (1930 – 2004)
Grande escritora brasileira, Hilda Hilst se diferenciou por ter uma vertente pornográfica, um universo ainda marcado pela produção e consumo para homens. “Algo que até hoje é muito mais aceito ao gosto masculino, mas não quer dizer que as mulheres não acessem e não se beneficiem”, pondera Carmita.
8 – Betty Faria (1941)
A atriz foi uma diva sexual nos anos 70 e 80, mas, até hoje, não perdeu sua majestade. Bem resolvida com a chegada da maturidade, Betty Faria não teve embraço em ir à praia de biquíni aos 72 anos, mesmo causando furor na mídia. “Assumir a idade e não ter vergonha do seu corpo também é libertário”, observa Mirian.
9 – Marta Suplicy (1945)
De família quatrocentona paulistana, a sexóloga e hoje senadora Marta Suplicy desafiou tabus de um País recém-saído da ditadura, falando de orgasmo e do prazer feminino na TV. “É essencial trazer a educação sexual como um fator importante para a população”, diz Carmita, citando a importância de Marta por ter difundido conhecimento neste tema.
10 – Carmita Abdo (1949)
Contribuindo com nomes desta lista, Carmita Abdo também merece estar nela, especialmente pelo seu papel fundamental na pesquisa do comportamento sexual. Mesmo com mais de dez anos de realizado, o grande levantamento que ela conduziu sobre sexualidade no Brasil ainda é uma importante referência. O estudo deu origem ao livro “Descobrimento Sexual do Brasil” (Summus).
11– Sônia Braga (1950)
Vivendo como ninguém personagens do escritor Jorge Amado, um mestre em retratar o sexo no Brasil, Sônia Braga representou o desejo ao sul do Equador ao encarnar Gabriela e Dona Flor. “Ela foi um ícone da sensualidade e sexualidade dentro da sua época. E trouxe isso com uma grande elegância. Ela trouxe tudo de uma forma muito genuína, sem que isso fosse agressivo para ninguém”, afirma Carmita.
12 – Daniela Mercury (1965)
Para Carmita, Daniela Mercury merece destaque por ela mesmo ter decido levar a público o seu amor por outra mulher, sem medo das consequências para sua carreira de sucesso dentro e fora do Brasil. A cantora assumiu uma relação homossexual com uma jornalista depois de ser casada com um homem e ter três filhos, mostrando que não há limitações para o desejo.
13 – Monique Evans (1956)
Monique Evans praticamente inventou, em 1984, a posição de rainha de bateria no carnaval, saindo de topless na Sapucaí. Carmita acredita que a importância maior da modelo não está na sua nudez, “mas por dar à mulher uma posição de destaque nessa festa importante do folclore brasileiro”.
14 – Valeska Popozuda (1978)
Em 2013, Mariana Gomes virou notícia em todo o Brasil por passar em 2º lugar na Universidade Federal Fluminense com um mestrado que celebra a importância da fanqueira para a liberação sexual. “Ela questiona certa hipocrisia do sexo feminino: a mulher quer transar e quer gozar, sim!”, justifica Mariana ao Delas.
Carmita concorda com esse entendimento: “Eu acho que ela traduz e veicula algumas coisas que muitas mulheres querem dizer e não se permitem”. Repetindo em suas entrevistas a frase ‘ser vadia é ser livre’, Valeska mostra que sabe muito bem o que está cantando.
15 – Tati Quebra Barraco (1979)
Mariana também defende a importância desta outra fanqueira desbocada para a liberação sexual feminina. “Quando ela fala ‘sou feia mais tô na moda’, traz uma série de incômodos. De repente, ela fala não estou nem aí pra isso e eu continuo exercendo minha sexualidade do jeito que eu quero”.
Fonte: Ig