Um dia de caos na metróple nacional
Por Paulo Machado / [email protected]
SÃO PAULO – Acordei na manhã de ontem e ligo a TV. O Bom dia Brasil, da Rede Globo, fazia a cobertura ao vivo de um despejo no cruzamento das avenidas Ipiranga com São João. Achei inusitado as imagens da TV mostrando uma “cachoeira” despencando do edifício. A cascata era formada de pedaços de cama, sofás, forno de microonda, cadeira, geladeira e portas. Todas as emissoras de TV cobriam o despejo e a grande confusão no centro agitado e nervoso da maior metrópole brasileira.
Às 10 horas da manhã pego a câmera fotográfica e fui ver no local o que realmente acontecia. Nas proximidades do edifício Copan as pessoas assistiam a cobertura pela TV, entusiasmadas como se estivessem vendo um jogo vitorioso da Seleção Brasileira na Copa do Mundo.
Chego à Praça da República, onde havia um grande aglomerado de pessoas, eram protestantes. Os portões da estação do metrô ali estavam fechados. A polícia chega e joga bombas; todos saíram correndo e a fumaça branca cobriu tudo. No meio da pista da Avenida Ipiranga um incêndio completava a cena de guerra. Enquanto me apresso para fotografar o incêndio, percebo que ao meu lado as portas de uma loja de telefones celulares tinha sido arrombada. Todo o comércio da região fechou devido ao tumulto.
Caminho mais alguns passos e finalmente chego no local do despejo, lugar que serviu de inspiração para os versos do Caetano Veloso na música SAMPA: “Alguma coisa acontece no meu coração/ Quando eu cruzo a Ipiranga com Avenida São João.”
A tropa de choque da Polícia Militar boqueou a área do despejo. O caos predominava ali. Entre os milhares de curiosos, o pessoal da imprensa corria para todos os lados, querendo pegar os melhores ângulos. Olho para o céu e vejo dois helicópteros parados no ar; eram equipes de TV abordo fazendo a cobertura.
Um pouco mais adiante chego ao Theatro Municipal. Ali tocaram fogo num ônibus coletivo de 18 metros de comprimento. Os bombeiros já haviam apagado o incêndio, mas mesmo assim centenas de pessoas observavam com espanto as ferragens do lotação que teve seu fim ali. Enquanto fotografo o ônibus, uma mulher derruba um orelhão e sai correndo.
Aproximadamente 200 famílias ocuparam os 22 andares do edifício onde funcionou o Hotel Aquarius. Muitos edifícios abandonados no Centro da capital paulista são frequentemente ocupados por famílias, apoiadas pela Frente de Luta por Moradia (FLM), organização de apoio aos sem-teto. A Policia Militar fez o despejo depois de muita resistência dos ocupantes do prédio. O despejo acontece quando é determinado pela Justiça. E assim prossegue São Paulo, a cidade que não para e nem dorme.