RESSIGNIFICAR É NECESSÁRIO: mensagem ao PT pelos seus 35 anos
Por Francisco Mesquita de Oliveira
O Partido dos Trabalhadores (PT) nasceu em 1980, há exatos 35 anos, em São Paulo, no bojo das lutas sociais contra o regime político autoritário dos governos militares e pela redemocratização do Brasil. Os militantes fundadores vinham de três matrizes políticas: sindical, do movimento sindical classista, que originou a Central Única dos Trabalhadores (CUT); da Igreja Católica progressista, lideranças ligadas as Comunidades Eclesiais de Base (CEBs) e; intelectual de esquerda, principalmente professores universitários. Essa mistura ideológica fez do PT, nos seus primeiros dez anos, um partido bem diferente dos demais, ao ponto dele propor à sociedade um projeto alicerçado na justiça social e na democracia participativa.
Nos primeiros dez anos de existência o PT manteve importantes princípios, como: ética na política, viés ideológico socialista, organização de base e articulação de um campo de esquerda progressista. Porém, com o passar do tempo e a conquista do poder público, razão da existência de qualquer partido, o PT, paulatinamente, foi mudando sua prática partidária, sua opção ética e sua estratégia de conquista de poder, e, ao mesmo tempo, foi distanciando-se do projeto político democrático popular antes idealizado. Por um lado, essa mudança fez dele um partido de massa com 1.590.304 (um milhão quintos e noventa mil, trezentos e quatro) filiados, com governo em centenas de municípios, governos em vários estados e o governo federal que está no terceiro mandato consecutivo. Dificilmente, na cultura política brasileira tradicional, o PT teria chegado aonde chegou se não tivesse passado por essa mudança, mas isto é uma opção não é uma condição. Por outro lado, a mudança de valores, de princípios, de ideologia fez do PT um partido político como outro qualquer, praticando ações políticas antes inaceitáveis, por exemplo: optar por cabo eleitoral nas eleições ao invés da militância ideológica; construir aliança com partidos (e políticos) defensores desse sistema político obsoleto; financiamento de campanhas com as mesmas fontes dos partidos conservadores e políticos desonestos e; emprego de estratégias inadequadas, no caso de parlamentares, para manter-se no poder.
A mudança de princípios e valores ideológicos fez e está fazendo o PT pagar um alto preço, como ter alguns de seus lideres acusados, sentenciados e encarcerados por atos de corrupção eleitoral, outros investigados por recebimento de propina de empresa estatal (é o caso da PETROBRAS), parlamentares federais com renuncia de mandatos por não resistirem acusações de adversários, entre outras situações indesejáveis. Essa sinistra realidade resulta, em grande parte, da ação do partido que se rendeu às estratégias do sistema político arcaico, corruptor, injusto e fracassado. Mas, diante disso, qual a opção do PT? Pelos valores políticos que defendeu no inicio de sua criação, esperava-se que o partido assumisse postura de ruptura com esse sistema político eleitoral corruptível, ruptura com os políticos e partidos que não apreciam valores morais e éticos na política, ruptura com práticas nada convencionais na ação política eleitoral, ruptura com o projeto da elite econômica financista, ruptura com o modelo econômico excludente em marcha no Brasil desde o período imperial. Porém, não foi o que aconteceu.
Lamentavelmente, para surpresa de muitos militantes e de alguns poucos lideres ptistas do baixo clero, o partido acomodou-se e baixou a cabeça, ao invés de transgredir e promover rupturas necessárias à construção de um novo sistema político eleitoral, novas práticas eleitorais, governança ética com justa distribuição de riqueza, em fim, promover um novo projeto de sociedade forjado numa nova cultura política. Ao que parece está escapando ao PT sua chance de fazer mudança estrutural, infelizmente.
Diante dessa incontestável realidade, o que fazer? Retomar os princípios éticos e morais na construção da prática política eleitoral seria o primeiro passo urgente e necessário. Para tanto, especialmente na base do partido, nos municípios, a exemplo de Esperantina, o partido deveria promover ciclos de debates sobre valores éticos e morais na política, sobre conjuntura internacional, nacional, estadual e local, construir articulação política interna e articular um campo político com aliados estratégicos, apoiando-se no programa partidário e num novo projeto de sociedade. Discutir e aprovar um código de ética para a ação parlamentar e executiva de seus membros. Juntar os militantes, as lideranças e simpatizantes para discutir, debater, analisar e construir propostas e acordos de novos valores morais e éticos na política de modo a ressignificar o Partido dos Trabalhadores.