Sobre liderança, poder e o painel da Igreja Matriz de Esperantina
Por Dr. Roque Neto
especial para o PORTALESP
Em fevereiro de 2015, quando os terroristas do Estado Islâmico invadiram a cidade de Mosul no norte do Iraque, uma de suas primeiras ações foi destruir o patrimônio histórico e cultural daquele país. Segundo os extremistas, as estátuas e as obras de arte eram ídolos que precisavam ser exterminados por motivos teológicos. Pessoas do mundo inteiro assistiram chocadas às imagens de demonstração de poder baseado na violência física, psíquica e cultural.
Não estamos no Iraque e tampouco somos vítimas do Estado Islâmico, mas temos a obrigação de defender o patrimônio histórico e cultural de Esperantina. A história de um povo não pode ser deletada e reescrita a cada administrador municipal, paroquial ou educacional que chega a uma cidade, e que nem mesmo sabe por quanto tempo alí ficará. A história de Esperantina pertence às gerações de pessoas que alí nasceram e/ou cresceram e geraram símbolos que representam nossa forma de viver, trabalhar e também de acreditar em Deus.
No caso específico do painel “O Calvário de Cristo Hoje”, de autoria do piauiense João Batista Bezerra Cruz, é inegável o significado histórico do mesmo para milhares de esperantinenses, sejam eles católicos ou não. O painel demonstra um modo muito peculiar de viver nossa fé cristã. Nós esperantinenses não acreditamos em um Deus desencarnado, mágico, alheio às lutas do seu povo. Acreditamos em um Deus que caminha conosco e sofre com cada menor abandonado, com cada mulher violentada e com as inúmeras formas de abuso de poder.
Por trás da controversa discussão sobre o painel, o que de fato está em jogo é uma dinâmica mesquinha de poder. Como sequela de uma mentalidade arcáica, alguns líderes ainda acreditam no ganho de autoridade com pequenas demonstrações de força. Lamentável! De fato, Lee Bolman, professor de Harvard, nos lembra que os bons líderes são aqueles que, antes de qualquer ação, se esforçam para ouvir o seu povo e compreender os seus símbolos. Os bons líderes não tomam decisões antes mesmo de chegarem ao seu lugar de comando. Eles são flexíveis e entendem que seu primeiro papel é servir.
Há inúmeras pessoas carentes de pão e de Deus em nossa cidade. A fome destas pessoas não começa nem termina com uma polêmica sobre um patrimônio cultural. Ela depende da capacidade dos nossos líderes assumirem uma postura de servidores. Esta “nova” postura é um pedido não apenas de intelectuais, mas do próprio Papa Francisco que melhor do que ninguém enxerga o abuso do poder dentro de sua instituição.
Muita coisa mudou em nossa cidade desde que o painel “O Calvário de Cristo Hoje” foi criado. No entanto, ainda permanecem muitos desafios. Um deles é ajudar nossos líderes a entenderem seu papel e a não agirem como meros administradores que se apegam a toda forma de poder. Assim como cresci observando aquele painel e buscando nele pistas para entender o mundo e a minha fé, espero que novas gerações de esperantinenses tenham a mesma oportunidade. E mais do que isto, que a discussão sobre o tombamento do painel nos alerte sobre o valor de nossa cultura e de nossa história, das quais muito nos orgulhamos.
* Roque Neto é esperantinense, filósofo, psicólogo, mestre e doutor em educação. Ele é autor de vários livros e artigos. Atualmente leciona no mestrado em Educação Urbana na Davenport University, nos Estados Unidos.
Texto perfeito. Mas logo no inicio pensei que o tema seria a intolerância cultural em todos os mundos dela. A intolerância. Ela mesma, que se alimenta dos conceito e preconceitos de gente que se acha ter a última gota dos oceanos. São quase todos: os picaretas, os linguistas, os donos, os encarregados, os endinheirados, os vitimados do berço.
Escreva sobre isso, caro Roque Neto. Quero colecionar os seus textos.
Olá Dr. Roque! Que alegria vê-lo defendendo nossa historia.A história do bravo povo de Esperantina.Seu artigo reflete quem você é: esperantinense que nunca perdeu sua raiz.O painel fica.
Olá Dr. Roque, O Painel Sai.
Querido Roque,
Gostei muito da reflexão sobre o painel do”CALVÁRIO DE CRISTO HOJE.”Percebe-se uma fé comprometida.Creio que VOCÊ herdou esta visão já nos primeiros anos de formação cristã em nossa terra da Boa esperança.Não perca de vista seu ponto de partida…Abraço forte!