Entrevista com Henrique Filho
Entrevista com o esperantinense Henrique Filho que atualmente mora no estado do Acre.
PORTALESP – Seu nome completo?
HENRIQUE – Henrique José Rodrigues Filho (em Esperantina sou conhecido por Filho e em Rio Branco por Henrique da Sportiva). Tenho 47 Anos, sou casado há 22 anos com Janete e pai de dois filhos: Roderick (já falecido) e Matheus.
PORTALESP – Quando você vivia em Esperantina o que você fazia?
HENRIQUE – Apenas estudava, fiz o segundo grau completo. Nas horas vagas trabalhava sem remuneração com meu cunhado, Sr. Antônio Vieira, num pequeno estabelecimento localizado no mercado central da cidade.
PORTALESP – Quando você saiu de Esperantina?
HENRIQUE – No dia 22 de outubro de 1984 às 17h30min. O local de saída foi em frente à casa do Sr. Edson Dias, no ônibus chamado Rei das Selvas. Não consigo esquecer essa data.
PORTALESP – Em que você trabalha atualmente?
HENRIQUE – Trabalho no ramo de material esportivo. Sou proprietário de duas pequenas lojas, endereço eletrônico:http://www.sportivaonline.com.br. Iniciei minhas atividades comerciais no dia 30 de março de 1995, porém meu primeiro cargo foi em uma empresa ligada ao ramo de Seguros do Banco Bradesco, chamada de Bradesco Seguros S A. Fui corretor de seguros por nove anos e larguei o banco para montar meu próprio negócio que já era um sonho muito antigo causado pela frustração de não ter a chance de ser um jogador de futebol profissional e, mesmo assim, continuar no meio esportivo.
PORTALESP – Você sofreu alguma discriminação por ser nordestino?
HENRIQUE – Não, mesmo por que a maioria da população acreana é formada pelo povo nordestino. Sofri apenas brincadeiras, mas isso é normal e acredito que seja uma defesa das pessoas dos estados do sul/sudeste que se acham superiores. Não todos os habitantes, mas grande parte deles julga nossa região atrasada, inferior e tentam ridicularizá-la principalmente por não conhecerem a força do nosso trabalho. Fora essa diferença cultural e regional, nada temos de diferentes. Somos todos de uma mesma nação, vivemos no mesmo país e falamos o mesmo idioma. Adoro o Brasil, o Piauí, mas amo do fundo do meu coração minha cidade natal (Esperantina) terra maravilhosa de mulheres bonitas, homens trabalhadores e um povo inteligente.
PORTALESP – Como é viver no Acre?
HENRIQUE – Sem sombra de dúvidas o estado que escolhi para viver cresceu e desenvolve-se muito. Não gosto quando as pessoas criticam um lugar cheio de belezas com uma natureza exuberante, difícil de ser encontrada em qualquer outra região. Além disso, as pessoas aqui são muito receptivas. O estado é dono de uma bela gastronomia que vai desde a baixaria, o tambaqui, a banana comprida, a rabada no tucupi, até o delicioso tacacá da pracinha. Com certeza quem tiver curiosidade de visitar o nosso querido estado não irá se arrepender. Porém, seria muito ingênuo da minha parte dizer que Rio Branco, capital do estado, não tem problemas; tem sim e muitos. Mas por outro lado possui qualidades que poucas capitais brasileiras têm. A cidade está ficando uma graça, tudo muito limpo e organizado sendo, assim, incomparável aos grandes centros do país por ser nova, com apenas 127 anos, e ter, não só uma pequena população para uma capital, com aproximadamente 350.000 habitantes, como uma culinária fabulosa e um povo bonito e hospitaleiro. Vale a pena conhecê-la e desfrutar do ar maravilhoso que Rio Branco tem.
PORTALESP – Qual foi o pior momento que você passou, desde quando saiu de Esperantina?
HENRIQUE – O pior momento foi quando cheguei à cidade de Porto Velho-RO, meu primeiro destino. Na época, década de 80, ela era uma cidade de garimpo, na qual morei com um amigo da minha irmã que trabalhava em uma mineradora. Deparei-me sozinho em uma cidade estranha e fui à procura de emprego, até conseguir trabalho na mesma empresa a qual fiz referência. Logo percebi que Porto Velho não era o meu lugar, por lá passei muita necessidade, pelo motivo de ter em mim apenas a coragem de um verdadeiro nordestino e a vontade extrema de vencer na vida. Com o capricho de Deus fui escolhido para transferir-me para Rio Branco – Ac. Todavia, tudo isso não é comparado com a sensação da perda de um ente querido. Quando perdi meu primeiro filho que tinha só 17 anos de idade, pensei que o mundo havia acabado para mim. Até hoje, passado quatro anos, está muito difícil suportar tanta dor, só sabe quem já perdeu um. Hoje ocupo meu tempo trabalhando, jogando uma bolinha, e admirando meu filho Matheus pelo qual sou muito apaixonado.
PORTALESP – De que você tem saudades?
HENRIQUE – Principalmente do meu filho Roderick (já falecido) e dos familiares que aí ficaram. Sinto falta ainda de Esperantina, dos tempos de brincadeira com os amigos da escola, pena que quando vou à cidade não tenho encontrado com eles.
PORTALESP – O que precisa para Esperantina melhorar?
HENRIQUE – Precisamos de investimentos maciços, contínuos e em longo prazo nas principais esferas que trazem a garantia para o bem-estar da população em geral como emprego, saúde, segurança, lazer e principalmente educação. Devemos resgatar nossa condição de cidadãos escolhendo políticos preparados, competentes e ajudando a promover este processo, participando, cobrando, exigindo, e acima de tudo, fazendo a nossa parte. Nosso destino depende também das nossas ações.
PORTALESP – Tem planos para voltar a sua cidade natal?
HENRIQUE – Para morar no momento não tenho planos definitivos, mas todo final de ano costumo viajar 14 dias, em média 13.000km, para ir e voltar de carro de Rio Branco-Ac até Esperantina-PI. É um longo caminho, mas através do contato com os familiares consigo recarregar minhas energias para um novo ano de trabalho. Já fiz isso 15 vezes.
PORTALESP – Considerações finais.
HENRIQUE – Vou deixar um desafio para os que fazem essa aventura à procura de uma vida melhor: se pensarmos no mundo dos esportes, veremos que o bom atleta é aquele que acompanha seu próprio desenvolvimento e, progressivamente, escolhe novos desafios a serem superados. Isso é essencial para o sucesso – a não ser que você se contente com pouco… Se você não quer nada menos do que o ouro, uma boa idéia é escrever, em um caderno ou diário, todos os seus limites e os novos desafios que podem servir de estímulo para superá-los. Para começar, você pode fazer um simples exercício: primeiro pense em que estágio você está hoje na vida e profissionalmente; e em seguida, dedique alguns minutos a uma reflexão sobre todas as superações que você já realizou ao longo de sua vida ou jornada; por fim, determine que novos desafios você quer superar. O ideal é repetir esse exercício diariamente. Tenho certeza de que você ficará surpreso, e muito animado, ao perceber que pode superar um novo desafio todos os dias. Tenho isso há muito tempo como um objetivo ou como uma lição de vida. Muito obrigado por essa oportunidade.