O PSD nasce para viver à sombra dos palácios, mas finge que faz oposição
O prefeito de São Paulo Gilberto Kassab veio ao Piauí, no sábado, para lançar seu partido, o PSD, que já foi de Juscelino Kubitschek, mas também serviu para ser uma das bases da Arena, o partido de sustentação do regime militar. Ressuscitado, o PSD trata-se não de uma agremiação partidária, mas de uma confederação de interesses, muitos deles pouco ortodoxos. O partido que nasce inclusive com uma cláusula de infidelidade (quem quiser pode sair se não se sentir confortável) é uma espécie de PMDB sem passado de combate ao regime militar.
No Piauí, esse novo partido já chega aninhando-se na zona de conforto dos palácios oficiais, deixando a oposição apenas a cargo do PSDB, o que é bastante ruim. Não se pode acreditar que quem foi colocado pelo eleitor na oposição queira, por via obliqua, trilhar o caminho da situação. Além de representar uma traição ao eleitor, isso representa um risco para a própria classe política, que se queda desacreditada ante o fato de que para essa gente só vale a pena a atividade político-partidária se for exercida sob a sombra e com a água fresca do governo.
Pior de tudo é que, sem oposição ou com uma oposição de araque (bem representada pelo PSD), quem está no governo tende a se achar ainda mais poderoso. Não é sem razão que na semana passada, quando o jovem e inexperiente deputado Marllos Sampaio quis engrossar o cangote, ameaçando sair da base governista, o governador Wilson Martins lhe passou um pito, apontou-lhe a porta da rua e ele, murcho, ficou caladinho, caladinho.
Arimatéia Azevedo