ROQUE NETO: Compaixão

A palavra compaixão evoca em muitos a imagem de alguém que cometeu um erro terrível ou foi vítima de algum desastre… Não importa o que a pessoa tenha feito ou sofrido, ao mencionar compaixão, sempre penso em outros, não em mim mesmo. Talvez, isto seja um equívoco porque, possivelmente, eu sou a pessoa que mais precisa de minha compaixão.

 

Costumo exigir muito de mim mesmo. Você sabe, não é fácil fazer dois cursos ao mesmo tempo, trabalhar com pesquisas independentes, tentar uma vida de escritor – com personagens surgindo em minha mente e implorando por atenção a cada amanhecer –, e ainda ter um sorriso acolhedor para amigos e familiares todos os dias. Tendo a cobrar muito de mim e até a me culpar quando algo não dá certo. Mesmo que seja um erro pequeno, quase insignificante, vejo minha consciência apontando um dedo acusatório para o meu rosto.

 

Por um tempo preferi rotular este meu comportamento de “perfeccionismo”. Sim, quem já trabalhou comigo conhece este meu lado. Depois que me interessei por psicologia, passei a considerar isto um problema de auto-estima… Nestes últimos tempos, porém, tenho notado que este modo de lidar comigo mesmo, talvez, seja uma questão de compaixão.

 

Ter compaixão comigo significa que na vitória ou na derrota, no sucesso estrondoso ou no pior mico que venha a pagar, tratarei a mim mesmo com generosidade e simpatia, da mesma forma que faço com as pessoas que amo. Nas ocasiões em que me permito lançar um olhar misericordioso para minhas imperfeições, o meu bem-estar, minha estima e força para lutar tendem a crescer.

 

Apesar de conhecer os benefícios da compaixão, nem sempre é fácil optar por ela. Em certas ocasiões, me parece impossível calar o juíz que existe dentro de mim e que condena minhas ações a cada instante. Por isto, na maior parte do tempo prefiro não prestar atenção aos meus sentimentos, intuições e ideias… Foco toda minha atenção no fazer.

 

Deste modo, os três grandes desafios para meu crescimento em compaixão por mim mesmo são:

– Ser mais generoso. Substituindoo  juíz ranzinza por um guia que me ajude a refletir sobre meus erros sem me condenar. Ao tratar-me com mais generosidade, a tensão e o estresse darão lugar à calma e ao contentamento.

– Entender que faço parte de uma grande família chamada humanidade, e que uma das marcas registradas deste grupo é a habilidade para aprender com os próprios erros… Esta aprendizagem pode ser dolorida ou saborosa, depende do modo como a encaro. A vida terá um sabor diferente quando eu aprender a sorrir de minhas imperfeições.

– Prestar atenção ao que se passa dentro mim. Só assim, poderei ver as coisas fora de mim como elas realmente são, sem distorcê-las ou negá-las. Esta objetividade me ajudará a perceber que as falhas são menores que os acertos.

Cultivar a compaixão por si mesmo talvez não seja a tarefa mais simples de hoje, mas não resta dúvida de que vale a pena, pois é ali que reside uma das chaves para a liberdade e o amadurecimento. Lembre-se, generosidade e atenção aos seus sentimentos e ideias lhe ajudarão neste caminho.

 

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