O PT em Esperantina acabou ou se transformou?

Por Francisco Mesquita de Oliveira

Francisco Mesquita de Oliveira
Francisco Mesquita de Oliveira. Esperantinense e professor de Ciência Política e Sociologia na Universidade Federal do Piauí – UFPI.

Tenho ouvido algumas vezes, ultimamente, comentários que afirmam que o Partido dos Trabalhadores em Esperantina acabou. É verdade que acabou o PT em Esperantina? Minha resposta para essa questão é sim e não. Analisando os acontecimentos políticos que envolvem o partido naquele município nos últimos vinte anos, é possível afirmar que o PT militante, aquele partido feito de pessoas que acreditam na política a partir de suas ações, práticas e atitudes com ideal de construção coletiva, sim, esse PT acabou. O partido com filiados e filiadas que vinham das comunidades para se juntarem aos companheiros e companheiras da cidade em reunião, encontros e plenárias para debater problemas sociais e propor melhorias ao município, sim, esse PT aí também acabou.  O partido fortalecido pelas lideranças de movimentos sociais que valorizam a coletividade e o sentimento de companheirismo, sim, esse partido realmente acabou.

Não existe mais o PT militante e de base atuante. Apesar do discurso de algumas lideranças aqui e ali em defesa desse PT militante, o pragmatismo político (a política real) dos governos (estadual e municipal) do partido com as negociações políticas com partidos tradicionais e conservadores enterraram aquele partido de base que, aos poucos, foi substituído pela política pragmática – a política da ação prática de ganhar eleição a qualquer custo.

Um exemplo desse processo de desvalorização do partido de base é uma confissão que, certa vez, tempos atrás, ouvi de um dos líderes do PT de Esperantina, dizia ele: para ganhar eleição é necessário jogar na lata do lixo da história tudo que aprenderá nas lutas sociais dos anos 80. E, arrematou, aquele aprendizado não serve para a política de hoje em dia. Até o presente não acredito nessa pertença lição. Entretanto, e infelizmente, para a política pragmática ela é verdadeira.

Passados os governos do PT em Esperantina, nos períodos de 2009 a 2012 e de 2014 a 2020, parte das práticas dessas gestões também contribuíram para o PT militante e de base desaparecer, sumir. E, até hoje o PT não fez avaliação crítica sobre a contribuição de suas gestões para o robustecer ou enfraquecimento do partido e das organizações sociais no município. Por falta dessa reflexão, ocorreu uma metamorfose partidária que fez o PT militante e de base desaparecer e surgiu um PT transformado e pragmático que nasce das próprias práticas das gestões públicas estaduais e municipal, a exemplo das gestões do partido em Esperantina.

Esse PT pragmático surge também das alianças, acordos e articulações políticas estaduais realizadas quase sem nenhum critério político crítico. Não foi só em Esperantina que ocorreu essa transformação partidária, ela é uma mudança de âmbito nacional em consequência dos acordos políticos do partido. Mas, o problema não são os acordos e alianças políticas em si, porque eles são da natureza da atividade política, não se faz política sem alianças, claro, o problema, então, foi e continua sendo a falta de critérios ético-políticos que orientem tais acordos.

Um único ponto parece que orienta as alianças do PT hoje em dia, inclusive em Esperantina, este que o pretenso aliado (ou futuro petista) tenha voto para ajudar a vencer eleição, não importa seu comprometimento ético-político e histórico político conservador, ele pode até vir de partido político de direita e ter flertado com candidato da extrema-direita, mas se numa dada conjuntura eleitoral simpatizar com esse PT transformado será bem-vindo e poderá até ser candidato do partido.  

Esse PT pragmático nasce com as gestões públicas do partido. Em Esperantina ele está vivo, fortíssimo e atuante. O PT de hoje em dia em Esperantina é um partido transformado, pragmático e estruturado em cargos comissionados negociados com parlamentares votados no município, geralmente apoiados por quatro ou cinco lideranças que, algumas vezes, chamam porção de filiados para ouvi seus discursos e quase nunca os convocam em sua totalidade para decidir os rumos e as propostas do partido.  Os filiados pouco importam ao PT pragmático, eles não opinam nos acordos e alianças e quando opinam é apenas para concordar. Individualmente eles importam aos grupos políticos internos do partido como base política de um ou outro grupo ou de parlamentar.    

Esse partido pragmático, em que os acordos são desprovidos de critérios ético-políticos, move-se pelo cálculo matemático eleitoral, quantos votos cada grupo do partido dará a cada candidato a vereador, deputado estadual ou federal apoiado no município. Quanto mais votos o vereador ou deputado A ou B consegue no município por esforço do seu grupo de apoio, mais força aquele grupo terá para influenciar o partido.

Para esse PT pragmático as eleições municipais não são conduzidas por plataformas políticas que visam o desenvolvimento socioeconômico municipal. Essa diretriz de desenvolvimento socioeconômico municipal pouco importa ao debate eleitoral local. O debate político interno sobre estratégias eleitorais tem sido substituído pelos acordos, negociações e conchavos que ocorrem quase sempre em pequenas reuniões entre quatro paredes, longe dos filiados. Assim, foi decidido a candidata a prefeita do PT em 2020 e repetiu-se o método na escolha do candidato às eleições de 2024 em Esperantina. Um pequeno grupo do partido decidiu por um candidato, apresentou numa reunião dita ampliada, cinco ou seis pessoas apenas votaram e decidiram sem ouvir a maioria dos filiados e tudo com a condução de um representante da executiva estadual. Essa decisão, verdadeiramente, não pode ser considerada uma decisão do partido, no máximo, é de um pequeno grupo, a comissão executiva, que de forma nada democrática decidiu pela maioria dos filiados. Contudo, o problema não são os candidatos em si, e sim o processo de negociação de gabinete que substituiu o debate amplo, democrático e deliberativo dos filiados. Entretanto, esse processo de decisão política de gabinete tem imposto um alto custo ao PT de Esperantina com a corrida de militantes e vereadores para partido e grupo político adversários.  

1 comentário
  1. Asilva diz

    Achei um texto incompleto. Faltou uma conclusão melhor

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