Entenda como surgiu a campanha de prevenção ao suicídio “Setembro Amarelo”
Dados do Centro de Integração de Dados e Conhecimentos para Saúde, da Fiocruz, divulgados em 2024, apontam que a taxa de suicídio entre jovens cresceu 6% ao ano no Brasil entre os anos de 2011 e 2022. O número foi maior que na população em geral, cuja taxa de suicídio teve crescimento médio de 3,7%.
Em escala global houve uma redução de 36% no número de casos, mas as Américas fizeram o caminho inverso. No período entre os anos 2000 e 2019, a região teve aumento de 17% nos casos. Nesse período, o número de casos no Brasil subiu 43%.
Com o objetivo de prevenir o suicídio e valorizar os cuidados com a saúde mental, a campanha Setembro Amarelo é marcada por ações que buscam trazer reflexão e informações sobre o tema. Ainda em setembro é celebrado o Dia Mundial de Prevenção ao suicídio, no dia 10.
A origem da campanha
A campanha surgiu após o suicídio do jovem Mike Emme, nos Estados Unidos em 1994. Mike era conhecido pelas suas habilidades mecânicas e, na época, tinha um Mustang 68, que ele mesmo restaurou e pintou de amarelo.
Os familiares e amigos de Mike, não conseguiram identificar os sinais de que ele poderia tirar sua própria vida. No dia do funeral, os amigos preparam uma cesta e nela tinham cartões com fitas amarelas com a seguinte mensagem: “Se precisar, peça ajuda”, uma forma de mostrar apoio àqueles que pudessem estar na mesma situação de Mike. E assim, a fita amarela tornou-se símbolo da campanha Setembro Amarelo.
A importância da terapia
Segundo a psicóloga Amanda Oliveira, a campanha reforça a importância de se falar da saúde mental, mas que o tema deve ser tratado o ano todo.
“Apesar da campanha ter maior visibilidade em setembro, é importante abordar a temática do suicídio durante todo o ano. Pois, cada vez mais o número de suicídios entre os jovens têm aumentado significativamente. Então, falar sobre suicídio, prevenção, posvenção e cuidados com a saúde mental, é importante ser abordado durante todo o ano, para que pessoas sejam ajudadas e conscientizadas sobre o tema” reforçou.
Ela acrescenta que ainda existe um certo preconceito sobre as pessoas que buscam auxílio psicológico ou psiquiátrico:
“Ainda há um certo preconceito, apesar de que já tem uma procura considerável de pessoas buscando. Devido à associação que se tem da terapia como sendo apenas um tratamento para pessoas com transtornos psiquiátricos. Por isso mesmo os pacientes que chegam pela primeira vez nas sessões ficam mais envergonhadas” explicou.
O publicitário Pedro Lucas, começou a fazer terapia em 2019, depois de uma pausa retomou em 2022. Ele disse que sentiu vergonha em buscar ajuda profissional, mas com as primeiras sessões ele sentiu a importância da terapia ao lidar com dilemas que ele enfrentava.
“Eu senti a necessidade de fazer terapia quando eu comecei a trabalhar de home office e comecei a ver que minha casa estava se transformando em ambiente de trabalho, senti que eu precisava desafogar aquilo. Às vezes quando eu saía para algum lugar, ficava triste quando percebia que tinha que voltar para uma casa que eu não reconhecia mais como lar, apenas ambiente de trabalho. Eu ficava estressado, ansioso, foi quando senti a necessidade de buscar ajuda profissional. Acabei trabalhando essa situação que eu estava enfrentando e reseolvendo outras questões pessoais envolvendo família e relacionamentos”.
Segundo Pedro, a terapia é um processo contínuo, um momento de se entender e que a frase “todo mundo precisa fazer terapia”, apesar de parecer clichê, passou a fazer mais sentido depois que ele começou as sessões.
“A terapia ainda vem me ajudando bastante, às vezes a gente pensa que logo vai receber alta, mas acontecem determinadas situações e você percebe que precisa ficar mais um pouco. Isso não significa que você não aprendeu, mas percebe que é uma oportunidade lidar com novos problemas que surgem e pensar também no futuro”
A psicóloga Amanda Oliveira faz um alerta a quem está sentindo necessidade de ajuda profissional.
“Se você que não está bem e reconhece isso, procure ajuda. Se permitir estar vulnerável e reconhecer isso é um ato de coragem e não de fraqueza. Como bem citou Brené Brown: “O que não precisamos no meio das nossas batalhas é sentir vergonha de sermos humanos. Permita-se dar um novo sentido à sua história e não desista de você.”