ARTIGO: Carne e o perigo da indústria da alimentação

Elóy Freire

Por Elóy Freire

Acordamos ontem (17/03) com uma notícia estarrecedora, duas das maiores fabricantes de carnes industrializadas haviam corrompido órgãos fiscalizadores para burlar fiscalização, podendo assim trabalhar com produtos com prazo de validade vencidos, adicionar várias coisas a produtos processados e outras práticas que não condizem com os padrões esperados, vou separar alguns pontos para tecer alguns comentários, que podem ir além da condenação pura e simples das empresas.

As legislações sanitárias e trabalhista no Brasil são das mais rigorosas do mundo, abrange todos os aspectos que se possa imaginar, para esses gigantes do mercado até mesmo a espessura do colchão usado para descanso ou a distância entre as camas tem amparo legal, é praticamente impossível seguir todas as normas – e muitas delas acabam com a tarja de trabalho semelhante a escravidão até por essas coisas que disse anteriormente, que por pior que seja, não se assemelha a ter a liberdade retirada e reduzir o outro à objeto como se é quando escravo – tanto que outros países nos utilizam como atestado de qualidade, se um produto pode ser exportado para o Brasil ou vem de lá é sinal que passou por uma bateria gigantesca de teste e pode entrar em nosso território também.

Dito isso vamos ao que interessa, às normas que efetivamente comprometem a segurança do consumidor ou o pacto que se tem de confiança entre empresa e público.

A luta da carne com o prazo de validade é das mais antigas e constantes de nossa história, o processo de putrefação começa assim que o animal morre, e em certas condições, nos é benéfica (a sua carne maturada super macia não passa de carne apodrecida da forma certa). Com o nossa evolução descobrimos processos que ajudavam a evitar que a putrefação tornasse a carne imprópria para o consumo, como a salga, defumação, resfriamento, congelamento, elaboração de conservas. Podemos dizer que cozinha só existe por necessidade do homem aprender a conservar e a facilitar a ingestão de alimentos, desde um “churrasco” paleolítico ao uso de sous vide tudo gira em torno de melhorar a conservação e ingestão.

Um passo importante nisso foi o uso de substancias químicas que melhoraram o tempo que um alimento pode ser consumido sem que suas qualidades sejam comprometidas, o uso de ácido ascórbico (vitamina C) em carnes é um exemplo, esse produto que nos é essencial em certas quantidades pode ser cancerígeno em doses maiores, em produtos manufaturados, (hambúrgueres, nuggets, espetinhos etc.) uma certa dose é até aconselhável para ajudar na conservação do alimento, o que foi acusado é o abuso dessa substância.

Outra coisa que foi acusada é o uso de produtos com prazo de validade vencidos, vale lembrar que produtos em diferentes apresentações e com diferentes tratamentos tem prazos de validades diferentes, uma carne in natura tem apenas alguns dias de validade, uma carne congelada meses. Após esse período a carne não está necessariamente podre, mas está fora de uma margem de segurança sanitária e quantos mais tempo passa maiores são as chances do produto estar efetivamente estragado. Toda e qualquer empresa pode ser processada se não tomar cuidado com isso (e é uma questão de dias até alguém resolver fazer), por isso é necessário se tomar cuidado com esses prazos.

Há outras acusações que de tão absurdas beiram o absurdo, como usar papelão para fazer volume em carne de frango, não é preciso nem meia linha para discorrer sobre como essa situação é errada. Imagine, caro leitor, no quanto esses grandes grupos e os funcionários do governo estão se importando com sua saúde se permitem esse tipo de coisa.

Por experiência como empresário do ramo e como consultor sempre disse a meus clientes e consumidores as vantagens de produtos artesanais. Dão mais trabalho? Sim! O risco de prejuízo é maior? Meu bolso sabe bem como é… Mas vale a pena? Bom, tenho certeza que todo mundo é capaz de sentir a diferença entre um hamburguer 100% carne bovina e outro misturado com papelão, mesmo que não saiba a diferença. As empresas agora amargarão um período negro com essa crise de confiança e não duvide se perderem o protagonismo ou mesmo se reinventarem depois de hoje.

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