ARTIGO: O enterro do “não consigo”

Por Marcio Kühne

Todos os alunos estavam trabalhando na tarefa de fazer uma lista de “não consigos”. A professora foi percorrendo a sala e lendo alguns: “Não consigo fazer divisões longas com mais de três números”. “Não consigo estudar números”. “Não consigo estudar muito tempo”. “Não consigo fazer dez flexões”. Quando todos os alunos acabaram, a professora colocou todos os “não consigos” numa caixa, incluindo os seus, tampou-a e saiu com ela, seguida pelos alunos, para o pátio do colégio. Escolheu um canto afastado e ali começara a cavar. Iam enterrar seus “não consigo”! Quando a escavação terminou, a caixa de “não consigo” foi depositada no fundo e rapidamente coberta com terra. Todas as crianças de dez e onze anos permaneceram de pé;, em torno da sepultura recém escavada. A professora, então, falou:

– Estamos hoje aqui reunidos para honrar a memória do “não consigo”. Enquanto esteve conosco, tocou a nossa vida e de muitas outras pessoas. Seu nome infelizmente foi mencionado em todos os lugares e agora providenciamos um local para o seu descanso final. Que “não consigo” possa descansar em paz e que todos os presentes possam retomar suas vidas e ir em frente na sua ausência.

Os alunos jamais esqueceram a lição. A atividade era simbólica: uma metáfora da vida. O “não consigo” estava enterrado para sempre. Logo após, a professora encaminhou os alunos de volta à sala e promoveu uma festa. Depois, como parte do ensinamento, pegou uma cartolina e escreveu as palavras “não consigo” no topo, “descanse em paz” no centro, e a data embaixo.

Esta cartolina ficou exposta na sala de aula durante o resto do ano. Nas raras ocasiões em que um aluno esquecia e dizia “não consigo”, a professora simplesmente apontava o cartaz “descanse em paz”. O aluno então se lembrava que “não consigo” estava morto e reformulava a frase.

 

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