ARTIGO: Os adolescentes de hoje

Por Marcio Kühne

Às vezes quando viajo de um compromisso para outro, me encontro sentando ao lado de alguém que é um autêntico tagarela. Normalmente é uma experiência agradável para mim porque sou um inveterado observador de pessoas. Eu aprendo muito prestando atenção e escutando as pessoas que encontro a cada dia. Já ouvi histórias de tristezas e de alegrias, de medo e de fé.

Triste dizer há vezes que me sento ao lado de pessoas que apenas querem descarregar seu rancor ou impor seus pontos de vistas. Era um destes dias, eu sentei resignado, quando meu companheiro de viagem começou seu discurso sobre o estado terrível do mundo, com aquelas frases “Você sabe, estes adolescentes de hoje…” E foi falando e falando, distribuindo vagas noções do terrível estado dos adolescentes, baseado em notícias de telejornais previamente escolhidas.

Quando eu desembarquei comprei um jornal e fui jantar no hotel. No jornal, em uma página interna, havia um artigo que, a meu ver, deveria ter sido a manchete de primeira página. Em uma pequena cidade, havia um menino de 15 anos com um tumor no cérebro. Submetia-se a tratamentos de radiação e quimioterapia. Em consequência dos tratamentos, tinha perdido todo o seu cabelo. Os colegas de escola do menino vieram espontaneamente amenizar a situação: todos perguntaram à suas mães se poderiam raspar suas cabeças de modo que aquele garoto não fosse o único sem cabelos na escola e não se sentisse diferente.

Naquela página, havia uma fotografia de uma mãe raspando a cabeça do seu filho com a família observando em aprovação. Ao fundo, um grupo de jovens igualmente sem cabelos.

Não, eu não me desespero por causa dos adolescentes de hoje. Afinal, posso escolher em que direção olhar.

 

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