ARTIGO: Valorize
Por Marcio Kühne
“É tão fácil reclamar da rotina. Eu que o diga” escreveu Carolina Varella. “Depois de 1 mês de internação, não aguentava mais o cheiro do pão de queijo da lanchonete do hospital, minhas costas gritavam de dor por causa do sofá (que usava como cama) e a rotina desgastante do tratamento me impedia de dormir por mais de 3 horas ininterruptas.
Durante a madrugada, toda hora entrava uma enfermeira no quarto, tinha um remédio pra dar, levá-la ao banheiro arrastando um suporte de soro, quantificar a urina… Enquanto eu me lamentava, lá estava (minha filha) Ana Luiza… rindo! Enfrentou uma barra pesadíssima, passou por circunstâncias que você só imagina em filmes de terror e estava lá… rindo pela centésima vez do Robin Rotten, o vilão de Lazy Town .
Se pra mim a rotina era ruim, pra ela deveria ser péssima, mas nada deveria nos impedir de sorrir. Quer dizer, de dar gargalhada. Era exatamente isso que ela fazia. A gente se sente muito pequeno perto de pessoas assim: que simplesmente sabem viver a vida. E nossos pequenos, sempre tem algo pra nos ensinar. Nós que somos péssimos alunos. E é ainda mais vergonhoso, quando a gente aprende as coisas, tendo que passar por circunstâncias difíceis. Durante o período de internação, em que a gente acaba ouvindo todo tipo de história e conhecendo todo tipo de gente, diversas vezes, ao afirmar que eu acreditava que Deus estava sendo muito bondoso conosco, era inevitável que algumas pessoas falassem: Bondoso? Ele permitiu um câncer na sua filha e é bondoso!?!? Sinceramente, esse raciocínio é bem óbvio… Afinal que tipo de deus, permite uma doença terrível dessas, em uma criança linda, amada e generosa como minha filha? É lógico que vendo dessa forma, Deus é um monstro.
Mas essa visão é simplista demais. É a mesma visão das pessoas que olham a vida em preto e branco. É a visão de pessoas que só enxergam as coisas que estão diante do nariz.”
Ana Luiza não sobreviveu, mas deixou um exemplo de força e persistência que é uma inspiração para cada um de nós: Pare de reclamar e valorize o que possui.