As eleições e o retorno da velha luta entre o bem e o mal
Por Caroline Treigher
Incrível observar como as eleições acabam afetando os corações de todos os envolvidos. Atualmente, no Brasil, atravessamos este febricitante período eleitoreiro. Sorte que é por pouco tempo! Mais um tantinho e teríamos uma guerra civil.
No começo, os ânimos ainda estavam tranquilos e éramos todos brasileiros, mas à medida que o processo se intensificou, cada vez mais o cenário pacífico mudou. Aumentaram os arranca-rabos nas redes sociais, as decepções, as denúncias, os palavrões, as manipulações, os julgamentos… Tudo cada vez mais intenso, menos preocupado com a verdade e mais ocupado com a vitória, sobretudo quando estamos às vésperas do segundo turno e o número de candidatos a presidente e governador reduziu-se a dois. Era tudo o que faltava para que se retomasse a velha atuação do conflito arquetípico entre os opostos. De repente, o Brasil se transformou no palco da guerra entre o bem e o mal, Deus e Satanás, Darth Veda e Luke Skywalker! A questão é: quem está do lado dos anjos e quem trabalha para os demônios?
Ninguém. Simplesmente porque neste planetinha azul o bem e o mal estão bem distribuídos em todos os cantos, dentro das nossas mentes. Cada um de nós possui os dois lados da moeda, temos virtudes e defeitos. Por uma ou outra proposta, atitude ou aparência de certo candidato, identificamo-lo com o bem ou o mal que há dentro de nós. Se projetamos nele (fazemos isso constantemente com as pessoas que estão em voga na mídia) todo o mal que desejamos extirpar de nós mesmos, tratamo-lo como um ser abjeto, um demônio, uma pessoa inescrupulosa e perversa, mesmo que nunca tenhamos trocado com o dito-cujo meia dúzia de palavras. Tudo o que se diz que possa reforçar o asco do sujeito é captado e computado como ponto negativo para esse ser infernal. O que se diz de bom, é ignorado e relegado ao status de mentira, sem qualquer investigação. De modo semelhante, exaltamos o candidato que identificamos com o bem que existe em nós mesmos (processo comum em se tratando dos ícones pops). Ele vira um semideus. É perfeito, incólume, versão brasileira dos infalíveis super-heróis americanos: Capitão Brasil ou Brasileira Maravilha. E a luta entre os dois é acompanhada por uma exaltada torcida de tietes, como se fosse uma luta pela salvação da humanidade. No caso, a salvação do povo brasileiro.
O que se pode dizer de tudo isso? Como falam os jovens: “menos, gente”. Vamos colocar os pés no chão e dar aos fatos suas devidas proporções. Não estamos prestes a escolher entre Jesus e Barrabás. Os dois candidatos, seja à presidência, ou ao governo do estado, são simplesmente pessoas. Como todas as pessoas, possuem aspectos negativos e positivos e não é isto que está em análise. Não vamos casar com eles. Vamos escolher a proposta de governo que mais se aproxima daquilo que acreditamos. E aí, crença, cada um tem a sua, não é mesmo? Quanto mais fundamentada, melhor.
De qualquer modo, não precisamos nos desesperar. Suas propostas diferentes são para governar o país ou o estado do qual eles também fazem parte, e não para destruir a nação. Se vão roubar, se vão desviar verbas ou dar cumprimento às suas promessas, cabe a nós nos responsabilizar pela fiscalização de seus atos políticos. Cabe a nós não ser como eles e não nos tornar conscientes e politizados apenas na época das eleições. Que façamos a nossa parte e saiamos do papel de vítimas indefesas e desprotegidas, à espera de um salvador. Por falar em Salvador, recordemos novamente Jesus, e o que Ele dizia aos que esperavam uma revolução: “O reino de Deus está dentro de vós”. Poderíamos dizer, inspirados nas suas palavras: “O Brasil Ideal está dentro de nós”. Vamos colocá-lo para fora?