BC eleva taxa de juros para 13,75% ao ano, o maior patamar desde 2016
O Copom (Comitê de Política Monetária) do Banco Central elevou nesta quarta-feira (3) a taxa básica de juros (Selic) novamente em 0,5 ponto percentual, de 13,25% a 13,75% ao ano, no aperto monetário mais longo da série histórica.
Diante do risco de desancoragem das expectativas para prazos mais longos, o colegiado do BC deixou a porta aberta para um possível ajuste adicional na próxima reunião, em setembro. No comunicado, o comitê diz que avaliará a necessidade de uma nova alta de menor magnitude, ou seja, de 0,25 ponto.
Com o 12º aumento consecutivo, a Selic atingiu o patamar mais alto desde 2016. De outubro a novembro daquele ano, ainda durante o governo Michel Temer (MDB), a taxa de juros estava fixada em 14% ao ano.
“O Copom enfatiza que seguirá vigilante e que os passos futuros da política monetária poderão ser ajustados para assegurar a convergência da inflação para suas metas”, disse.
“Nota ainda que a incerteza da atual conjuntura, tanto doméstica quanto global, aliada ao estágio avançado do ciclo de ajuste e seus impactos acumulados ainda por serem observados, demanda cautela adicional em sua atuação”, complementou.
Desde o primeiro movimento, quando partiu de seu piso histórico (2% ao ano) em março de 2021, o ciclo de aperto acumula elevação de 11,75 pontos percentuais.
O atual choque de juros já é o mais forte desde a adoção do regime de metas de inflação, em 1999. Na época, a taxa básica subiu de 25% para 45% ao ano.
No encontro desta quarta, o colegiado do BC seguiu o plano sinalizado na reunião anterior e repetiu a magnitude do aumento de 0,5 ponto promovido em junho, quando reduziu a dose de ajuste da taxa de juros pela metade após duas altas seguidas de 1 ponto percentual.
Para justificar o movimento, o Copom citou a “incerteza ao redor de seus cenários e um balanço de riscos com variância ainda maior do que a usual para a inflação prospectiva”.
A decisão do Copom veio em linha com a projeção consensual do mercado financeiro. Levantamento feito pela Bloomberg mostrou que a elevação de 0,5 ponto percentual na Selic era praticamente unânime entre os economistas diante de mudanças significativas no ambiente doméstico.
Desde o último encontro, as medidas do governo para baratear os preços dos combustíveis por meio do corte de impostos se concretizaram, com a sanção da lei que fixa o teto de 17% ou 18% para as alíquotas de ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços) sobre combustíveis, energia elétrica, transporte e telecomunicações.
Com isso, o IPCA-15 (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo-15) desacelerou com força em julho e atingiu a menor variação em dois anos, com a taxa acumulada em 12 meses ficando em 11,39%. O número veio abaixo de 12%, mas ainda muito acima da meta oficial para a inflação deste ano (3,5%) -já abandonada pelo BC.
O IPCA de julho será divulgado pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) na próxima terça-feira (9).
Apesar do alívio de curto prazo estimado sobre a inflação, a percepção de aumento dos riscos fiscais, após a aprovação da emenda constitucional que amplia benefícios sociais e sustenta a atividade econômica, tem pressionado as expectativas para 2023.
Dado que as projeções de inflação para este ano e o próximo estavam sujeitas a impactos elevados associados às alterações tributárias, o comitê optou por “dar ênfase à inflação acumulada em doze meses no primeiro trimestre de 2024, que reflete o horizonte relevante, suaviza os efeitos diretos decorrentes das mudanças tributárias, mas incorpora seus impactos secundários sobre as projeções de inflação relevantes para a decisão de política monetária”.
O BC avaliou que permanecem fatores de risco para a inflação em ambas as direções.
Entre as condições que puxariam os preços para cima, destacou uma maior persistência das pressões inflacionárias globais, a incerteza sobre o futuro do arcabouço fiscal do país e estímulos fiscais adicionais que sustentam a demanda agregada, parcialmente incorporados nas expectativas de inflação e nos preços de ativos.
Na direção contrária, voltou a ressaltar uma possível reversão, ainda que parcial, do aumento nos preços das commodities internacionais em moeda local e uma desaceleração da atividade econômica mais acentuada do que a projetada.
”O comitê pondera que a possibilidade de que medidas fiscais de estímulo à demanda se tornem permanentes acentua os riscos de alta para o cenário inflacionário. Por outro lado, nota que o aumento do risco de desaceleração da economia global também acentua os riscos de baixa”, disse.
No ambiente externo, o BC considerou que o cenário se mantém “adverso” e volátil”, com “maiores revisões negativas para o crescimento global em um ambiente inflacionário ainda pressionado”. Uma queda de dois trimestres consecutivos no PIB (Produto Interno Bruto) dos Estados Unidos alimenta preocupações com o risco de recessão global.
Segundo o BC, a conjuntura continua particularmente incerta e volátil e requer “serenidade” na avaliação dos riscos.
As projeções de inflação do horizonte relevante vêm se deteriorando entre os analistas do mercado. De acordo com a pesquisa Focus publicada na última na segunda (1º), as estimativas para 2022 e 2023 estão em 7,15% e 5,33%, respectivamente, ambas acima do teto das metas perseguidas pelo BC. Para o IPCA de 2024, o mercado prevê 3,30%.
No cenário de referência do Copom, as projeções de inflação caíram de 8,8% para 6,8% neste ano e subiram de 4% para 4,6% em 2023. Para 2024, manteve a previsão de 2,7%. Na análise, o BC diz que as estimativas incorporam o impacto das medidas tributárias aprovadas pelo Congresso.
“Para o horizonte de seis trimestres à frente, que suaviza o efeito ano-calendário, mas incorpora os impactos secundários das medidas tributárias que incidem entre 2022 e o primeiro trimestre de 2023, a projeção de inflação acumulada em doze meses situa-se em 3,5%”, destacou.
O cenário do BC supõe trajetória de juros que termina 2022 em 13,75% ao ano, reduz-se para 11% em 2023 e 8% em 2024.
Dada a defasagem dos efeitos da política monetária na economia, o colegiado tomou sua decisão sobre os juros olhando para o objetivo de 2023 e, em menor grau, de 2024 -fixados pelo CMN (Conselho Monetário Nacional) em 3,25% e 3%, respectivamente, com margem de tolerância de 1,5 ponto percentual para mais ou para menos.
O Copom volta a se reunir nos dias 20 e 21 de setembro para recalibrar a Selic.