Correção anatômica revela a cara real de Leonardo das Dores

Por Paulo Machado / [email protected]

Leonardo das Dores 1SÃO PAULO – A imagem que se conhece do escritor, político e militar Leonardo das Dores causa estranhamento e é rejeitada por muitos. Trata-se de uma litografia, feita em Lisboa, Portugal, em 1843 por Nicolau José Possolo Lecoingt. O que causa rejeição a essa litografia é a desarmonia que compõe o rosto do poeta, que teve a sua imagem registrada aos 54 anos de idade. A litografia de Leonardo das Dores foi descoberta em 1989 na Biblioteca Nacional portuguesa e enviada ao Brasil. Com conhecimento técnico da questão, é possível corrigir essa desarmonia anatômica.

A FACE REAL DO POETA

Leonardo das Dores - 2Ao tomar conhecimento da rejeição de muitos a respeito da imagem de Leonardo das Dores, fiz uma análise do que poderia haver de errado, pois a cara que aparece na litografia feita em Lisboa é realmente muito estranha. Estudei rigorosamente a anatomia do corpo humano aplicada para às artes plásticas, o que me credenciou automaticamente a fazer a seguinte descoberta: O que causa rejeição a essa litografia é o fato da desarmonia que compõe o rosto do poeta: olhos excessivamente arregalados, nariz fino demais, a frontal da cabeça está pequena, além da mandíbula que está em tamanho menor do que o natural. Esse conjunto de falhas deixou o rosto de Leonardo distorcido, parecendo um alienígena. Um rosto encolhido, prensado.

Leonardo encomendou a sua litografia para que a mesma viesse a ilustrar o livro “Astronomia e Mecânica Leonardiana”, a qual foi publicada apenas em parte, e realmente foi incluído o seu retrato feito por Lecoingt. Daí se presume que se publicaram a litografia é porque devia mesmo ter semelhanças com o escritor, então imediatamente acreditei que seria possível corrigir os erros de proporções e revelar a imagem mais aproximada de Leonardo das Dores. Foi o que fiz exatamente. A certeza absoluta das distorções anatômicas no rosto de Leonardo obtive após o acesso a uma página na internet com as obras de Nicolau José Possolo Lecoingt. Lá facilmente observamos nas pessoas que foram desenhadas por ele, as mesmas falhas que deixou no rosto de Leonardo, além de outras. Lecoingt desenhou muitos membros da aristocracia portuguesa do século XIX.

MUDANÇAS CONSTANTES

Leonardo de Carvalho Castello Branco nasceu em 1788 na fazenda Limpeza, em São João da Parnaíba, no norte da província do Piauí. Em 1841, o território da fazenda Limpeza foi integrado ao novo município de Barras. E, finalmente, em 1920, a fazenda onde nasceu Leonardo das Dores passou a fazer parte do município de Esperantina. Leonardo já tinha 53 anos de idade quando a sua fazenda, onde nasceu, foi desmembrada de Parnaíba e integrada ao município de Barras. E já estava morto há 47 anos quando surgiu Esperantina em 1920.

Quando esteve preso em Portugal, por conta de sua atuação política e militar no Piauí, acrescentou-lhe um novo nome: Leonardo da Senhora das Dores Castello Branco. Adotou o nome da santa de sua devoção como pagamento de uma promessa, pedindo a própria libertação. Foi libertado e retornou ao Brasil. E por esse fato é conhecido atualmente como LEONARDO DAS DORES.

Em 1859, ao retornar de Lisboa, Portugal, traz a imagem de Nossa Senhora da Boa Esperança para a capela do povoado Retiro, situado às margens do rio Longá. A partir de 1920, o povoado Retiro se transformou na cidade de Esperantina, cujo nome foi inspirado na padroeira local – Nossa Senhora da Boa Esperança.

Leonardo morreu no dia 12 de junho de 1873, aos 85 anos de idade, no Piauí. Mas, ao longo da vida, morou também no Maranhão, Pernambuco, Bahia, Rio de Janeiro e Portugal. Teve intensa participação política na luta pela independência do Piauí, além de ter deixado vários livros publicados em Portugal. Era muito religiosos e isso está claro em sua obra. Até hoje os esforços de Leonardo das Dores não foram reconhecidos, embora muito se tenha escrito sobre sua biografia e seus feitos. Era militar.

O OLHAR – ESPELHO DA ALMA

Devemos ao trabalho do artista Nicolau José Possolo Lecoignt o fato de conhecermos hoje o rosto de Leonardo das Dores. Embora, 172 anos depois, estou aqui revelando falhas cometidas pelo artista, por falta de conhecimentos técnicos mais aprofundados. Fiz a devida correção anatômica no rosto de Leonardo das Dores, mas preservando tudo o que Lecoingt registrou de forma correta. O resultado final resultou num rosto de um homem vivendo por volta de 1843, com 54 anos de idade. Abaixo da obra o nome do poeta Leonardo das Dores escrito em caligrafia gótica alemã.

Leonardo das Dores aparece com um olhar marcante, profundo e que, provavelmente, esse olhar era o reflexo de sua determinação, coragem, fé e espírito aventureiro. Leonardo aparece com olhos claros, mas não sabemos que cor realmente tinham. Será que os olhos dele eram amarelos ? Verdes ? Azuis ? Provavelmente o olhar de Leonardo das Dores era temido e respeitado por quem o conheceu e foi seu contemporâneo. Depois da correção anatômica, a harmonia artística está presente no rosto de Leonardo das Dores, com todas as regras universais da anatomia humana, reveladas ao mundo por Leonardo da Vinci durante o período renascentista.paulo machado

4 Comentários
  1. Elias Júnior diz

    Muito mais simpático,fazendo jus a uma grande figura da nossa história.
    Parabéns Paulo Machado!

  2. valdemir diz

    Muito mais feio ainda Paulo, você precisa ver o desenho do Cleudenir dos Santos Duarte, esperantinense, estudante de Artes Visuais na UFPI.

  3. Paulo Machado diz

    Prezado Elias Junior, muito obrigado por comparecer aqui e registrar o seu apoio e admiração pela iniciativa que tivemos – a tentativa de reconstruir a fisionomia verdadeira do Leonardo das Dores – isso é bastante positivo para todos nós que idealizamos esse projeto. Como conhecedor das técnicas das artes plásticas, você sabe que é um trabalho difícil, tentar corrigir algo que foi feito há quase 200 anos; e que no rosto humano qualquer falha modifica a fisionomia, ainda mais quando uma obra foi feita com erros de proporção.

  4. Paulo Machado diz

    Prezado Valdemir, a sua crítica e menosprezo também são bem-vindos. Há 5 anos eu assino com o meu nome e a minha cara tudo o que publico aqui no PORTALESP – isso significa que me sinto seguro por tudo o que faço ou deixo de fazer na vida. O meu objetivo na reconstrução dessa obra não foi deixá-la mais feia ou mais bonita; e sim corrigir a desproporção anatômica que deturpou a cara do Leonardo das Dores. Você tem o livre arbítrio para aceitar ou rejeitar a nossa iniciativa, e fique à vontade para julgar o meu trabalho inferior ao de alunos de qualquer universidade federal. E como eu fiquei conhecido por algumas pessoas na Europa e outras partes do mundo, por ter detonado o escândalo da lambada, compare também o meu trabalho com a dos alunos da École Nationale Supérieuse Beaux-Arts de Paris. E sim, eu vi o trabalho ao qual você julgou superior ao meu – afirmo que ele reproduziu os mesmos erros de quase 200 anos atrás. O meu dom para as artes e escrita são regidos por Leão (o Sol e o bicho considerado o rei dos animais).

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