Escândalos à vista: Os novos aliados do presidente
Na convenção em que Jair Bolsonaro foi escolhido candidato à Presidência, em 2018, o general Augusto Heleno, hoje ministro do Gabinete de Segurança Institucional, parodiou um samba famoso de Bezerra da Silva.
“Se gritar pega centrão, não fica um meu irmão”
O general substitui “ladrão” da letra original por Centrão.
Eram os tempos em que o candidato Bolsonaro fazia de tudo para manter distância dos políticos e partidos mais fisiológicos do Congresso.
Hoje, o Centrão é não só aliado, mas uma espécie de fiador do governo — é confusão na certa, como mostra reportagem exclusiva da Edição da Semana de Crusoé:
Estamos falando de políticos como Roberto Jefferson, Arthur Lira, Ciro Nogueira, Valdemar da Costa Neto e Gilberto Kassab…
Leia um trecho da reportagem exclusiva:
Entregar postos importantes a quem opera com a desenvoltura e desprendimento dos ases do Centrão é como acionar uma bomba relógio. Pode até não se saber quando, mas uma hora ela vai estourar. Durante a era petista, as áreas comandadas pelo Centrão geraram pelo menos 3 bilhões de reais em desvios e danos causados aos cofres públicos, a se considerar apenas as investigações do Ministério Público Federal e da PF que conseguiram chegar a bom termo. Pesam sobre os ombros dos membros do bloco fisiológico dezenas de processos, nas esferas cível e penal. Dos 174 deputados que integram o Centrão, 46 deles respondem a ações criminais ou são investigados…
Roberto Jefferson, condenado e preso em razão do escândalo que ele mesmo denunciou, é um dos novos mercadores do Centrão. Recém-convertido ao bolsonarismo, ele é hoje um dos mais apaixonados defensores da figura do presidente nas redes sociais. Atualmente, basta estar na trincheira oposta à de Bolsonaro para “despertar os instintos mais primitivos” do todo poderoso do PTB, para usar uma expressão que ele próprio consagrou na CPI dos Correios. Na última semana, em seu perfil no Twitter, onde se define como “atalaia do lar cristão”, ele chegou a escrever: “Messias Bolsonaro é nosso líder. Devemos poupá-lo e lutar por ele. Nós brigamos, ele governa. Trindade; ele é o líder, nós os liderados. O céu nosso teto”. Por trás de toda essa cantilena messiânica está o interesse em ocupar espaços no governo – e quem sabe até filiar Bolsonaro ao PTB para disputar a reeleição em 2022. Por ora, Jefferson se contenta em assinar a ficha de filiação ao PTB de bolsonaristas expulsos do PSL, como o deputado estadual Douglas Garcia, de São Paulo. O mensaleiro de outrora jura que o PTB ainda não tem cargo no governo, mas se for oferecido, claro, ele já disse que aceita.
Além de Roberto Jefferson, compõem a linha de frente do Centrão os notórios Valdemar Costa Neto, do PL, Gilberto Kassab, do PSD, e Ciro Nogueira e Arthur Lira, do Progressistas. A ficha corrida dessa turma é extensa. A aliança com proverbiais malfeitores deveria ao menos corar a face de quem até outro dia dizia abominar o que convencionou chamar de “velha política”. Bolsonaro, no entanto, abandonou qualquer tipo de prurido em nome da sustentação parlamentar no Congresso, até que um eventual escândalo os separe. Ou nem tanto, como expôs a votação durante a semana do Fundeb, fundo que financia a educação básica. A derrota do governo – que depois a narrativa oficial quis transformar em vitória – mostrou que ou a fidelidade dos expoentes do Centrão pode ir até a página dois ou eles não têm tanto poderio assim no Congresso para entregar o que prometem nos bastidores. A se consumar qualquer um dos dois casos, o custo do enlace governo-Centrão ficaria ainda maior…