ESPECIAL: Tráfico e uso de drogas assolam o Piauí
Um problema que era considerado “exclusivo” das cidades grandes, agora atormenta as cidades do interior: as drogas. O tráfico e uso de entorpecentes está se espalhando para a maioria dos municípios do Piauí, que passaram a ter todos os problemas trazidos por esse “câncer social” como a violência e evasão escolar.
Agora, o velho hábito de sentar nas calçadas no final da tarde está ameaçado. Os pequenos comércios são obrigados a investir em aparatos de seguranças e o que é pior: o futuro dos jovens dessas cidades está comprometido. Segundo dados do Comando de Policiamento do Interior, os municípios mais populosos do Estado possuem um maior índice de consumo de drogas.
De acordo com o tenente-coronel, subchefe do comando do Interior, Antoni Soares, o processo de globalização é fator determinante na expansão das fronteiras onde o crime e as drogas conseguiram chegar. Para ele, para que haja um combate efetivo ao narcotráfico é preciso haver uma cooperação entre governos através de pactos institucionais no combate ao comércio das drogas.
“A globalização traz coisas para o bem e para o mal. Se nós formos buscar um pouco do histórico das drogas na geração passada, o consumo iniciava da de menor efeito para a de maior. Após 20 anos, a realidade é outra. Hoje o consumo já inicia com uso dos entorpecentes mais fortes e por isso o aumento dos dependentes em todo o estado”, avalia.
O tenente-coronel afirma que o bandido procura sempre diversificar os meios para distribuir a droga, mas os ônibus interestaduais ainda são os principais meios de distribuição. Em 2015, a polícia conseguiu impedir o comércio de aproximadamente R$ 15 milhões com a apreensão de drogas e já nas primeiras semanas de 2016, a média de apreensão é de R$ 500 mil.
Tráfico e uso de drogas aumentam ocorrência de delitos
O subchefe do comando do Interior, tenente-coronel Antoni Soares, relata que o aumento no uso de entorpecentes nas cidades do interior faz aumentar os pequenos delitos, já que usuário precisa alimentar o seu vicio. Além disso, a dependência gera a degradação e desarranjo familiar e social para o jovem. “O impacto imediato está no aumento dos delitos na cidade”, declarou.
Ele disse que a cocaína chega ao Brasil de países produtores como Bolívia, Peru e Colômbia, e entra através das embarcações que atravessam as fronteiras e chegam até São Paulo, onde são distribuídas para todo o país. 80% da maconha produzida no Paraguai vêm para o Brasil. Além disso, existe uma parte que vem da produção de Pernambuco e já existem pontos de fabricação no próprio estado do Piauí.
“Ano passado nós conseguimos desativar uma roça de maconha próximo ao município de Miguel Leão, onde foram apreendidas 10 toneladas da erva”, afirma. Além disso, a droga também entra no Piauí através do uso de carro, viagens de ônibus e outras maneiras que fazem com que o entorpecente chegue no seio da sociedade piauiense. Por isso, a Polícia Militar tem adotado medidas preventivas e repreensivas no combate ao tráfico de drogas.
“Temos uma companhia ligada às escolas através dos pelotões que fazem um trabalho de vigilância nos entornos dessas escolas. Nós temos trabalhado preventivamente através de palestras com profissionais qualificados para tratar com crianças e adolescentes os problemas das drogas e também temos os pelotões mirins que permitem tirar as crianças da rua e da ociosidade”, completou.
As operações repreensivas são as blitze realizadas na divisas do estado e o serviço reservado faz o trabalho de inteligência com trabalho de investigação para identificar e prender traficantes e apreender drogas.
Polícia trabalha com foco na prevenção
As drogas fazem parte do contexto social de todas as culturas. Desde os primórdios existem relatos de uso de substâncias psicoativas. Tendo consciência de que somente medidas repressivas não são suficientes para conter a disseminação das drogas, a Polícia Militar desenvolve o Programa Educacional de Resistência às Drogas e à Violência (Proerd).
De acordo com a major Elizete Lima, coordenadora estadual do Programa no Piauí, a sociedade vive em um ambiente em que a população acredita que até mesmo o uso exagerado do álcool, considerado uma droga lícita, é normal. As drogas estão no meio social causando problemas e o interior do estado não está mais alheio ao consumo abusivo. Por menor que seja o município, já foi identificado um número crescente do uso de entorpecentes.
Uma pesquisa do Tribunal de Justiça revelou que entre a população carcerária do Piauí, cerca de 45% dos homens estão cumprindo pena por tráfico de drogas, entre as mulheres mais de 65% estão presas por conta do mesmo delito.
Major Elizete Lima, que é pós-graduada em Políticas Públicas sobre Drogas, acredita que somente a medida repreensiva não é suficiente para combater a avanço das drogas em todos os setores da sociedade. Ela lembra que a Polícia Militar estoura inúmeras bocas de fumo e prende centenas de traficantes por ano, mas nem por isso os índices de tráfico e consumo de drogas diminuem consideravelmente.