Hoje é Dia do Orgasmo! Data foi criada em Esperantina
“Relaxa e goza”, recomendou Marta Suplicy no auge do apagão aéreo, no final do primeiro mandato de Lula. Até chegar o ponto de uma ministra de Estado soltar essa frase que virou bordão, uma longa trajetória foi percorrida, as vezes nem tão amável. Nos séculos passados, mulheres que buscassem o prazer, além de serem desmoralizadas socialmente, poderiam ser ‘diagnosticadas como loucas’ e irem parar em um hospício. Os homossexuais então serviram de cobaias nas câmaras de gás nazistas.
Essa história de exclusão começou a mudar na década de 1960 com a criação da pílula anticoncepcional, que deu início a chamada Revolução Sexual e proporcionou o amor livre, dissociando de vez sexo de procriação, ideia que vigorava até então devido dogmas da Igreja Católica. As mulheres e minorias sexuais vivenciaram uma enorme liberdade sexual, que só seria ameaçada com o surgimento da Aids, nos anos de 1980.
Mas a resistência ao debate sobre o orgasmo ainda vigora, apesar da enxurrada de apelos sexuais que as pessoas são submetidas todos os dias, principalmente no ambiente online. Pelo menos é o que acredita o advogado Arimateia Dantas, tanto que ele formulou e ajudou a instituir o Dia do Orgasmo na cidade de Esperantina. A lei lhe proporcionou uma fama repentina, bem como para o município.
Por que instituir essa data foi importante?
O orgasmo é uma necessidade natural de todos os seres humanos. É uma fonte de prazer e vem sendo negligenciado no debate público. No momento que esse instinto é negado há várias consequências físicas e psicológicas. Até então, as pessoas não tinham coragem de tocar no assunto, uma pena, por isso percebi que devia gerar uma discussão sobre o orgasmo na sociedade.
O senhor acredita verdadeiramente que um assunto de foro íntimo deve ser tratado pelo Estado?
Absolutamente. Existe um tabu a respeito do orgasmo envolto também de um machismo forte. O Estado deve sim debater isso sim de forma natural, sem amarras e preconceitos, uma vez que muitas pessoas ainda são receosas de tocarem em assuntos referentes à sexualidade com seus parceiros e familiares. Diante da grande muralha construída pelo preconceito, o poder público tem a obrigação de estimular uma discussão sobre o orgasmo de forma sadia e que possa garantir o direito ao prazer a todos seus cidadãos.
Ainda que uma atitude louvável, o senhor não acha que pode está criando uma ditadura do orgasmo. Isso não é uma escolha estritamente pessoal?
Não estou tentando criar uma obrigação para que todas as pessoas sintam obrigatoriamente o orgasmo. Não é meu objetivo. Lógico que se trata de uma vontade pessoal. Você não pode querer sentir orgasmo, tudo bem, mas é preciso também pensar no parceiro. Se a outra pessoa tiver vontade ela tem o direito de ser atendida. Isso precisa ser conversado. O que quero é justamente chamar atenção da sociedade para a importância de se tocar nesse assunto, inclusive para encontramos formas de aperfeiçoá-lo.
É imaginável que o projeto tenha sofrido resistência e preconceito por parte da população de uma cidade pequena como Esperantina. Como foi?
E muito. Houve inicialmente uma incompreensão por parte principalmente dos homens, que debocharam e fizeram chacota do projeto de lei. Achavam que eu queria fazer pornografia. Mas as mulheres tiveram uma recepção bem melhor. Não se tratar de falar pornografia. É discutir o orgasmo na sua plenitude como força da natureza. Constatamos que a maior parte dos divórcios era motivada por falta de afinidade dos casais, provocada principalmente pela ausência de conversas sobre os gostos pessoais na cama.
A que motivos credita o fato das mulheres terem sido mais receptivas sobre essa discussão?
É muito fácil responder essa pergunta. São elas as principais vítimas desse silêncio em torno do orgasmo. São elas que sofrem machismo em sua pior face. Com relação a isso, criamos a urna do orgasmo [[email protected]], um espaço para que as pessoas possam contar seus depoimentos.
Por Kaio Oliveira / 180graus