Não confundam falta de educação com sinceridade
Por Gustavo Almeida
Na última quarta-feira (27), o presidente da República, Jair Bolsonaro, reagiu ao fato de a imprensa ter publicado reportagens sobre gastos alimentícios do governo federal, com destaque para as compras de leite condensado.
Em almoço com artistas numa churrascaria de Brasília, ele comentou o assunto e, visivelmente incomodado, mandou a imprensa ir “para a puta que o pariu”. Bolsonaro ainda usou a expressão “imprensa de merda” e mandou os jornalistas “enfiarem no rabo” as tais latas de leite condensado.
O comportamento do presidente gerou diversas críticas, mas também foi elogiado por uma parcela que enxerga nele um homem bastante espontâneo, sincerão, de temperamento forte, que fala o que pensa. Para alguns, o jeitão de Jair Messias Bolsonaro é positivo, já que ele não tem papas na língua e diz o que lhe vem à cabeça.
Porém, não há nada de sincerão ou de espontâneo nessa fala de Jair Bolsonaro. Não se pode confundir espontaneidade com falta de educação, sinceridade com estupidez ou temperamento forte com arrogância. Quando Jair Bolsonaro manda a imprensa ir para a puta que o pariu e usa termos chulos ao se referir a jornalistas, ele está mostrando tão somente sua falta de costume, o seu baixíssimo nível intelectual e sua péssima educação.
O argumento de que o presidente é um homem sincerão é apenas uma maneira tosca de querer camuflar a falta de educação e a estupidez dele. Se xingar as pessoas quando algo nos irritar for sinônimo de sinceridade, poderíamos xingar um recepcionista de órgão público quando não tivermos uma demanda atendida, mandar o motorista do ônibus que atrasou ir para a puta que o pariu e falar para o garçom do restaurante enfiar o prato no rabo após o pedido demorar.
Não devemos tratar como ato de espontaneidade o que, na verdade, é ato de gente mal educada. Com palavreado chulo, o presidente mostra que sua educação é bem modesta, se é que ele ao menos possui algum fragmento de educação. Os xingamentos proferidos por Bolsonaro seriam graves mesmo se ele fosse um sujeito qualquer, contudo, ganham mais gravidade por se tratar de um presidente da República.
Se ele não tem o mínimo de equilíbrio para encarar uma notícia negativa sobre seu governo, imagine como ele poderá conseguir equilibrar um país em crise, com pandemia ceifando vidas e economia deformada, em grande parte, por incompetência justamente do governo federal. Se mesmo diante desse quadro ainda há quem ache vantagem na falta de educação do presidente, dificilmente o Brasil conseguirá sair da bancarrota e voltar aos trilhos.