OPINIÃO: O que está acontecendo no Brasil?

Por Joel Paviotti

Se há um fenômeno que ficou explícito nos últimos dias da tão conturbada campanha eleitoral de 2022 foram as manifestações de aporofobia. Esse termo foi cunhado pela filósofa espanhola Adela Cortina e se refere ao tipo de preconceito não apenas com pobres, mas com etnias e grupos sociais cuja maioria populacional pertence às camadas menos abastadas. No Brasil, é o caso do negro, indígena e de boa parte da população do Nordeste brasileiro. Seja morador de comunidade ou de espaços sertanejos com menor desenvolvimento econômico, ninguém foi poupado, principalmente por um Sul e Sudeste que acreditam ser mais desenvolvidos em todos os aspectos da vida humana.

Esse termo foi bastante utilizado após o padre Júlio Lancellotti denunciar a “arquitetura antipobre” que se espalha pela cidade de São Paulo e impede que pessoas em situação de rua busquem abrigo em espaços públicos, como se a presença delas tivesse que ser varrida para locais distantes da vista daqueles que as consideram menos humanas que eles.

Esse tipo de tratamento dado aos mais pobres está entranhado em nossa estrutura social. Ele se manifesta de forma sistêmica em espaços como o elevador de serviço e o quartinho de empregada e tem se tornado cada vez mais explícito nas diversas agressões que são praticadas contra aqueles que se encontram em situação de vulnerabilidade.

Quanto mais excluída socialmente é uma pessoa, mais ela é tratada com aversão por quem lhe nega o próprio direito de existir.

O fato é que a aporofobia funciona muito bem em um país como o Brasil. É muito fácil culpar pobres, pois são a maior parte da população e são eles que estão nos espaços com menor privilégio.

Muitos dos ricos brancos do Sul e Sudeste saíram às ruas, durante o auge da Pandemia, para pedirem que o governo não fechasse seus negócios, para que os pobres continuassem trabalhando normalmente. Hoje, fecham seus comércios em um protesto lunático pela perda das eleições.

Além desses absurdos, a legitimação da aparofobia possibilitou operações da PRF para evitar que pobres nordestinos votassem, a criminalização de pessoas numa das maiores comunidades de São Paulo e muita, muita coação de patrão para com seus funcionários.

Tudo isso nas vistas de todas as autoridades e instituições possíveis. Ao longo dos dias subsequentes às eleições, nenhum dono de transportadora foi preso por fechar rodovias, nenhum adolescente rico, branco, do Sul, foi encarcerado por atos racistas. Sabe por quê? Por que o encarceramento em massa é feito para pobres e pretos, que estão nas camadas mais baixas da sociedade.

A Aparofobia escancarada mostra que o Brasil é um país dividido, mas que o ódio que vem de cima parece ter despertado e vem sendo explicitado a todo momento. Cabe a quem está embaixo resistir e odiar também. Amor não vence aversão a pobre, só facilita o seu extermínio.

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