Escola de samba Mangueira vai retratar a vida da piauiense Esperança Garcia no Carnaval 2019
Em 1770, uma escrava piauiense escreveu uma das mais antigas cartas de denúncia de maus-tratos contra os negros que se tem registro no Brasil. O texto, entregue ao governador da província do Piauí, resultou na libertação de inúmeros escravos e fez com que essa mulher, após a morte, recebesse o título de advogada pela OAB do Piauí. Essa é a trajetória de Esperança Garcia, uma das personagens que serão retratadas pela Mangueira no próximo carnaval.
Segundo reportagem do Extra, a escola levará à Avenida o lado B da história do Brasil, de heróis pouco conhecidos, às vezes esquecidos da narrativa oficial. Muitos deles negros, o que reforça a importância do Dia da Consciência Negra, celebrado hoje, com eventos como o cortejo da Tia Ciata.
Além de Esperança Garcia, o carnavalesco Leandro Vieira representará em alas e alegorias figuras como Dandara, mulher de Zumbi e guerreiro da luta contra a escravidão; Luísa Mahin, líder do levante dos negros malês em Salvador; e Luiz Gama, advogado, jornalista e poeta abolicionista.
— É muito pertinente quando a Mangueira se coloca na condição de narrar a história não contada das lutas negras. A minha intenção, com isso, é aproveitar esse momento de discussão sobre a importância da representatividade para apresentar ao grande público os personagens que não tiveram a notoriedade que deveriam ter. O que o enredo quer fazer é despertar a consciência — afirma Leandro.
No caso de Esperança Garcia, o presidente da ONG Educafro, Frei David, lembra que a então escrava percebeu que várias pessoas eram escravizadas de forma ilegal, ferindo leis internacionais.
— Por ser uma pessoa sábia, fazia petições ao governador do Piauí exigindo a libertação de escravos. E o governador libertou várias pessoas por isso. A história é tão forte que, agora, em 2017, a comunidade negra do Piauí apresentou para a OAB do estado uma pesquisa superconsistente e solicitou o título de advogada a Esperança Garcia. E eles concederam, post mortem. Naquela tempo não existia no Brasil faculdade de Direito. É assim, então, que ela passou a ser a advogada mais antiga do país.