Por que consumimos tanta babaquice na Internet e esquecemos de assuntos sociais?

Por: professor Orlando Berti*

stenio garciaUm dos principais assuntos desta semana na Internet em todo o Brasil foi o fato de uma foto de um ator global e sua esposa estarem nus. Algo que empolgou tanto a curiosidade de muita gente que mais parecia a celebração da cura da Aids.

Mas não! Não era a Aids que estava curada, mas sim uma foto simples de um casal, em um momento simples, estavam pelados, e sequer com a mão no bolso.

A questão desse ator nos faz sentir vergonha alheia porque um caso do tipo ganha, literalmente, a boca e a visualização de parte do povo enquanto assuntos sociais não são tão discutidos na Internet.

De quem é a culpa? Da Internet e de sua velocidade e proporção de compartilhamento de tantas baboseiras ou de uma suposta ignorância de parte da população de sequer saber o que acontece ao seu redor?

Não tenho a resposta, mas o direito de alguém circundar uma informação de vida íntima pode ser cruel ao ponto de esquecer que o semelhante teve a vida invadida (e amanhã a vítima pode ser o mesmo espalhador de hoje) bem como temáticas sociais, políticas e econômicas estão aí batendo as portas e bolsos da gente mas não geram interesse.

A Internet é uma nova arena. É a exacerbação da esquina nossa de cada dia onde antes rolava fofoca, hoje potencializada por mil.

Mas a culpa não é da janela, ou seja, não é da Internet, é de quem a usa. E, sem querer ser maniqueísta e dizer o que está certo ou errado, convocamos quem lê essas errôneas linhas a refletir: por que não utilizar o potencial da rede para cobrar mais ética na política? Por que não cobrarmos mais transparência no poder público? Por que não fiscalizarmos mais nossos governantes? Por que não compararmos preços? Só para citar algumas perspectivas.

Ah…você faz isso?! Muito bem! Parabéns pela cidadania! Mas não é mais que nossa obrigação.

Enquanto a nudez do ator e sua esposa são expostos milhares de problemas poderiam ser refletidos. E, por mais chato que isso possa parecer, é dever de todos nós refletirmos.

Crucificar é fácil, difícil é pôr a mão na massa. Ou esperaremos o próximo escândalo para execrar e vamos esquecer às cracolândias que se infestam por aí? Ou vamos silenciar problemas sociais de moradores em situação de rua ou então sobre a homoafetividade, ou ainda sobre o machismo, só para citar alguns exemplos.

Viva a Internet, mas viva a sociedade inteligente e consciente que ainda tenta habitar nela!

* Jornalista e professor universitário. Atua em O Olho via Projeto de Pesquisa de Etnografia das Redações tentando entender o modo de fazer jornalismo no Piauí.

Fonte: OOLHO

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