‘Povo não pode ser crucificado’, diz presidente da CNBB em visita ao Piauí
Em sua primeira visita ao Piauí como cardeal, o presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), Dom Sérgio da Rocha, declarou que não existe saída para a crise do país sem superar a corrupção e que o “povo brasileiro não pode ser crucificado”. O religioso defendeu a necessidade urgente de reforma política, diálogo e separação entre público e privado.
“Misturar o público e privado na política traz consequências tristes para o povo e nossas famílias. O povo brasileiro não pode ser crucificado pela corrupção. Acima de tudo, precisamos de posturas cristãs diante da realidade social e política que aí estão. A primeira postura é a defesa da ética na vida pública, na política e no dia a dia da vida”, defende.
Segundo ele, resgatar a ética na política é um dos maiores desafios atuais no país.
“Rejeitamos a corrupção que acontece no mundo político, mas não podemos aceitar, aparentemente, atos pequenos de corrupção no dia a dia da pessoas. ‘Não’ a corrupção e a indiferença, e ‘sim’ a ética e participação política. A reforma política tem sido esquecida, tem se dado atenção apenas para outras reformas” declarou, em entrevista coletiva na Residência Episcopal, na manhã desta quarta-feira (5), em Teresina.
O religioso criticou as reformas Trabalhista e da Previdência e insiste que as decisões não podem ficar restritas ao Congresso Nacional.
“Precisamos do Congresso Nacional dialogando com a sociedade civil organizada, precisamos do povo se interessando pelo o que se passa no Brasil, reflita sobre isso e se mobilize. Sabemos das dificuldades vividas no momento, onde há um certo descrédito em relação ao políticos e a política. Contudo, a política é muito importante na sociedade democrática. Não dá pra ter uma sociedade democrática sem mediação política. O alerta é para que não se perda direitos conquistados. Ao se fazer reformas, corre se o risco de desrespeitar direitos. É preciso mais diálogo e menos pressa na aprovação de reformas, pois elas mexem com a vida do povo”, acredita.
Apesar de não se pronunciar diretamente sobre eleições diretas, o cardeal reforça que a Constituição Brasileira deve ser considerada.
“Defendemos um novo modo de fazer política baseado na ética, na busca efetiva do bem do povo brasileiro. Na política, o cristão deveria fazer a diferença. A igreja não tem postura política partidária como instituição, mas incentiva os fieis a participarem da política”, declarou.
Em conversa com jornalistas, o presidente da CNBB, que já foi arcebispo da Arquidiocese de Teresina, também admitiu que sente saudades da capital piauiense.