Presidente usa narrativa falsa para ampliar batalha contra governadores
O presidente da República, Jair Bolsonaro (sem partido), usou mais uma vez da criatividade para espalhar uma narrativa falsa que lhe favorece na batalha que tem travado com governadores, incluindo adversários explícitos para o cenário de 2022, como Flávio Dino (MA), João Dória (SP) e Eduardo Leite (RS), além dos tradicionais adversários petistas Wellington Dias (PI), Rui Costa (BA), Camilo Santana (CE), dentre outros.
A disputa entre o presidente e governadores ganhou mais um episódio com a decisão de chefes estaduais em decretarem medidas mais restritivas como estratégia de combate à covid-19. A resposta do presidente veio em tom de crítica às medidas e na tarde de domingo (28), o presidente publicou nas redes sociais os valores que segundo ele, é o número de “Repasses do Governo Federal para cada estado só em 2020”. No caso do Piauí, os números são de R$ 19 bilhões para “valores diretos” e R$ 5,8 bilhões para “valores indiretos”.
Apesar dos números serem reais, a narrativa é falsa porque tenta estabelecer que os recursos foram enviados pelo governo federal para os estados para que estes enfrentassem a pandemia. Na verdade, os valores são referentes aos repasses constitucionais da União para Estados e Municípios, inclusive incluindo repasses como os Fundos de Participação dos Estados, dos Municípios, de Desenvolvimento da Educação, Nacional de Saúde, Assistência Social, e até pagamento de benefícios previdenciários, sem contar o próprio auxílio emergencial, que são exemplos de recursos que caem direto na mão dos beneficiados, sem passar pela gestão dos governos estaduais. Informar dando a entender que é repasse extraordinário é falso, afinal de contas, o repasse constitucional pertence aos Estados e Municípios e tem como base o pacto federativo, não sendo este repasse nenhum favor do governo federal.
A maioria dos governadores rebateu o presidente nesta segunda-feira (1). Enquanto a relação entre o Executivo Federal e os estaduais está neste tom, a pandemia avança de forma preocupante em todos os estados, fazendo com que estados do Sul, do Norte e do Nordeste sofram com grandes chances de colapso no sistema de atendimento à saúde.