Seca leva ao assoreamento da Lagoa do Portinho em Parnaíba
Um dos mais belos cartões postais do Litoral do Piauí e ponto bastante visitado pelos turistas vem sofrendo um processo progressivo de assoreamento. A Lagoa do Portinho, situada na cidade de Parnaíba, a 318 km de Teresina, está praticamente seca e com o futuro ameaçado. Sem chover regularmente na região há quatro anos, a lagoa que foi um dos maiores símbolos de beleza da região, passou a atrair olhares melancolicos, além dos prejuízos tanto para visitantes como para quem trabalha no local.
De acordo com o comerciante Aluísio Soares dos Santos, dono de um restaurante há quase 30 anos, as vendas diminuíram cerca de 50% nos últimos anos. “A situação é calamitosa na região dos bares, pois a lagoa está seca e só tem lama. O negócio está tão triste que quando chego lá eu dou as costas para a lagoa”, disse. O comerciante cita a falta de chuvas regulares nos últimos anos como o maior problema, mas conta que existem suspeitas de pessoas represando água na região.
“Temos notícia de algumas pessoas represando água. Já procuramos o Ibama, mas disseram que deveríamos entrar com denúncia no Ministério Público”, falou. Segundo ele, a situação da lagoa foi comunicada ao governo do estado no início do mandato do atual governador Zé Filho (PMDB), no entanto nunca houve resposta. A situação faz os visitantes deixarem de ir a lagoa e os prejuízos só aumentam. “A cada dia está diminuindo mais. Tem gente que ainda vem só para ver a situação precária da lagoa”, falou.
Com a seca na região, outro problema agrava a situação. Os ventos comuns nessa época do ano aumenta o deslocamentos de dunas que interditam estradas e causam prejuízos na área. Revoltados com a situação, estudantes do campus da Universidade Federal do Piauí em Parnaíba estão se mobilizando para realizar um ato público em defesa da Lagoa do Portinho. Eles denunciam o descaso das autoridades com a área e cobram medidas urgentes para salvar a lagoa.
De acordo com a líder do movimento, a estudante de turismo Joselma Cordeiro, 29 anos, a situação é vergonhosa. Ela afirma que o governo é negligente e diz que ninguém toma atitude para amenizar o problema. “A gente sabe que não chove há alguns anos na região, mas o problema não é só esse. Tem gente desviando água, jogando lixo lá, enfim, uma série de desrespeitos ao meio ambiente”, contou. A iniciativa dos alunos conta com o apoio de professores e a comunidade também será mobilizada para participar.
Segundo Joselma, o objetivo é chamar a atenção do governo. “Isso surgiu de um trabalho da universidade que fiz com a Lagoa do Portinho. Após perceber a situação, veio a ideia de fazer uma intervenção para chamar a atenção do governo, pois a lagoa não pode esperar”, explicou. Cerca de 50 estudantes participam da articulação do movimento.
Procurada pela reportagem do G1, a chefe do escritório da Secretaria Estadual do Meio Ambiente em Parnaíba (Semar), bióloga Roseane Galeno, reconheceu a situação e disse que é preciso “rezar para chover”. Segundo ela, a realidade se agravou devido os quatro anos sem um bom inverno na área e diz que a última vez que a lagoa ficou cheia foi em 2009. Roseane disse que são realizados trabalhos na região, tanto para a revitalização quanto para contenção de dunas, mas muitas das atividades esbarram na falta de recursos.
“Foi feito um trabalho de revitalização, mas certamente era para ter tido continuidade no monitoramento, o que não ocorreu por falta de recursos. A gente vem tentando buscar recursos para voltar a dar continuidade a esse plano de monitoramento”, disse. Segundo ela, a equipe do escritório da Semar em Parnaíba é muito reduzida e isso dificulta o trabalho na região. Sem chuvas e com muito vento, ela afirma que o trabalho de contenção das dunas apenas retarda o avanço.
A expectativa da bióloga para o próximo ano é a criação de unidades de conservação que restringiriam o uso da lagoa e organizaria a visitação quando ela voltar a ficar cheia. Apesar de reconhecer os problemas, ela falou ainda que a dinâmica da região também influencia bastante para a atual realidade. “A dinâmica da nossa região é diferenciada e produz sedimentos de forma intensa. Grande parte da água da lagoa é oriunda da chuva e os anos de seca agravaram a situação”, disse.
Fonte: G1