Tem uma lógica por trás dos números dos partidos políticos?
“Meus companheiros e minhas companheiras”, “amigas e amigos de todo o Brasil”, o PPJ (Pergunta pro Jokura) informa: eu bem que gostaria de encher esta resposta de superstições, simbologia e até de numerologia. Mas, não, o PSDB não é 45 porque é o ano do tucano no horóscopo chinês, o PT não é 13 porque dá azar e o PL não é 22 em homenagem ao ano corrente. Fonte: Pegunta pro Jokura.
O começo dessa história de numerar os partidos —que já tem quase 40 anos— é puro acaso. E devo essa descoberta ao trabalho de registro histórico do cientista político Jairo Nicolau, da UFRJ, e do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
A numeração dos partidos começou nas eleições de 15 de novembro de 1982, ainda sob a ditadura de João Figueiredo. Na ocasião, apenas cinco legendas foram autorizadas a concorrer. E os números de cada uma foram definidos por sorteio, na seguinte ordem:
- PDS (Partido Democrático Social)
- PDT (Partido Democrático Trabalhista)
- PT (Partido dos Trabalhadores)
- PTB (Partido Trabalhista Brasileiro)
- PMDB (Partido do Movimento Democrático Brasileiro)
A partir de 1985, a Justiça Eleitoral extinguiu a numeração de 0 a 9 e os cinco partidos originais acrescentaram uma dezena aos números do sorteio de 1982. Foi assim que o PT do Lula virou 13, o MDB da Tebet virou 15, o PTB fundado por Getúlio Vargas, 14 e o PDT do Brizola, e agora do Ciro, 12.
Em 1993, o PDS de Paulo Maluf se aliou ao Partido Democrata Cristão (PDC) para criar o Partido Progressista Reformador, que depois de várias mutações virou o que hoje chamamos de Progressistas, herdeiro do número 11.
Já o 17 passou pela mão de muita gente antes de chegar ao partido que elegeu Bolsonaro presidente. Ele não representava o PSL até as eleições de 1996. A primeira vez do 17 foi em 1985, designando o Partido Democrata Cristão (PDC) —e assim seguiu até o fim da agremiação, em 1993.
No pleito de 1994, o 17 pegou carona no aerotrem de Levy Fidelix, fundador do Partido Trabalhista Renovador Brasileiro (PRTB), mas logo desembarcou. Só a partir de 1996 é que o Partido Social Liberal assumiu o número que é do macaco no jogo do bicho, tá ok?
Os demais números surgiram, com poucas exceções, de acordo com a seguinte lógica: nas eleições de 1985, estrearam 23 partidos, assumindo numerações entre 16 (PPB) e 40 (PSB) —a exceção foi o 32 (PNR), que só concorreu no ano seguinte. O Partido Liberal, 9º partido da vida pública do presidente Jair, também surgiu nessa leva, numerado, desde então, como 22.
Em 1988, estrearam do 41 (PSD) ao 49 (PHN). Em 1989 —eleição do Collor (20), lembra?—, debutaram do 51 (PDN) ao 57 (PDC do B) —mas ninguém quis o 53.
De 1990 em diante, as dezenas foram aumentando até o limite do 84 (PFS), que estreou em 1992 —e por ali mesmo se aposentou.
Ao longo desse nosso atual e breve período democrático, a maioria dos números foram sorteados, alguns foram herdados de partidos extintos e alguns poucos puderam escolher a numeração preferida, fora da ordem protocolar. É o caso do 10 (PRB) — mínimo permitido pela Justiça Eleitoral— que só entrou em cena em 2006.
E dentre os 32 partidos na ativa atualmente, o último número inédito a aparecer nas urnas foi o 90 (Pros), em 2014.
Na eleição seguinte, em 2016, tivemos três partidos novos: Novo (30), Rede (18) e PMB (35), mas esses números já tinham sido usados por outros partidos antes.
Voltando ao Jair, ele tentou fundar um partido novo para se lançar candidato à reeleição, lembram? O Aliança pelo Brasil se inscreveu na Justiça Eleitoral postulando o número 38 —o que muitos alegavam se tratar de uma referência ao calibre da popular arma de fogo.
Para as eleições de 2022, temos dois novos partidos: o Unidade Popular, de número 80, e o União Brasil, fusão entre Democratas (antigo PFL), que era 25 e o PSL, 17. Somando, daria 42, mas consultores teriam orientado o partido a adotar algarismos repetidos para facilitar a memorização do número pelo eleitorado. O União ficou, então, como 44 em vez de 42 —o Guia do Mochileiro das Galáxias agradece.
Enfim, é tanto partido que daqui a pouco vão cobrar uma reforma do código eleitoral para incorporar três dígitos na representação das siglas.